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✍️ Mozart Rosa
📅 23/05/2020
🕚 12h
📷 Capa: Internet




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Dando continuidade a uma série de textos de cunho eminentemente técnico, iremos explicar os prováveis motivos da queda do setor na totalidade, ao longo de anos. Tentaremos assim esclarecer diversos pontos que até hoje são debatidos, mas por vezes equivocadamente divulgados e defendidos, e assim demolir uma série de mitos.
Boa leitura a todos.

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O motivo do fracasso das ferrovias no Brasil: quem efetivamente acabou com as ferrovias no Brasil (Parte 1)

Essa história é longa, por isso, antes de finalizarmos, dividimos o nono capítulo desta série em três partes.
Vamos à primeira parte: começaremos com o período pós-1962.
Os que desconhecem a história real, associam a derrocada de alguns trechos aos governos militares. O que embora não fosse de todo mentira, não foi nada institucional. Já mostramos em postagem anterior o podium empresarial nada honroso que a RFFSA ostentava, onde dentre as “conquistas” estavam as de maior prejuízo, maior número de funcionários e maior patrimônio. A partir de 1962 dois fatores em conjunto contribuíram para a derrocada:

  • O primeiro foram os brutais prejuízos anuais da RFFSA. Poucos sabem, mas em 1965 a RFFSA tinha 105.000 funcionários. O Bradesco, então o maior banco privado do Brasil, só alcançou esse número na década de 80.
  • O segundo fator é mais complexo, mas tem a ver com a postura de pessoas ligadas aos órgãos de pagamento da RFFSA.

Em relação a este segundo item, vamos explicar: em uma empresa privada alguém específica um produto, manda para o setor de compras que efetua essa compra usando vários parâmetros tais com prazo de entrega, preço e condição de pagamento, e daí a nota fiscal vai para um setor que processa o pagamento e na data devida efetua esse pagamento. Quando o pagamento não é feito na data, permite a quem cobra receber, além de juros por atraso, poder também protestar à empresa que não paga. É como colocar uma empresa no Serasa. No caso de uma estatal como a RFFSA a coisa já começa errada, pois caso não pague na data, além de não poder ser protestada, não paga juros por atraso.

Prédio da RFFSA ao lado da estação Dom Pedro II — Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Foto: Wikimapia

 

Além disso, sempre tem o interesse escuso de quem compra, quem paga e, muitas vezes, de quem especifica. No caso dos trens de cremalheira de Petrópolis e de Nova Friburgo (ambos trajetos rentáveis com bom volumes de passageiros e cargas) um dos fatores que contribuiu para a extinção foi a empresa fornecedora de peças de cremalheira já não suportar o fato de não receber por encomendas, de receber em atraso ou dar “contribuições” para a turma responsável pela liberação do pagamento. Daí parou de fornecer peças e oferecer reparos.

VEJA TAMBÉM  [VÍDEO] Supervia adota medidas anti-vandalismo nas portas de trens
Cremalheira do tipo “Fell” usada nas linhas da Serra de Nova Friburgo. Foto: História e Memória de Nova Friburgo.

 

A lenda de que, no caso de Nova Friburgo, a estrada teria sido extinta por não transportar mais café não se sustenta, pois o café já tinha parado de ser produzido na região de Cantagalo há pelo menos 50 anos.

A Fazenda Santana, em Cantagalo, transportava a sua produção de café através da ferrovia e possuía estação própria (“Chave de Santana”). Esse pontilhão fica próximo ao local onde se localizava a estação, já demolida. Foto: Acervo A Voz da Serra.

Nova Friburgo tinha uma indústria pujante: a Ypu, grande fabricante de produtos variados, mas principalmente de couro, como cintos e bolsas, tinha uma plataforma de carga nos fundos de sua fábrica, por onde passava a ferrovia para despacho de mercadorias.

A grandiosa Fábrica Ypu, fundada em 1912, chegou a ter 1400 funcionários na década de 1980 Foto: Wikimapia

 

Outras indústrias da região também usavam a ferrovia para o despacho de suas cargas. Portanto, a lenda de que o fim do café matou essa ferrovia não se sustenta.

Fonte: Cartão-Postal

 

Outro fator omitido e desconhecido é o de extinguir linhas não lucrativas. A razão desse prejuízo já explicamos anteriormente: dava ao responsável prestígio junto à diretoria. Afinal o foco era granéis. Quem mora na área de atuação da antiga RMV (Rede Mineira de Viação) tem muitas histórias para contar sobre isso: a linha de Cruzeiro a São Lourenço, por exemplo, foi paralisada e posteriormente desativada em definitivo sob a alegação de que uma determinada ponte estaria com problemas. Só que essa ponte nunca havia sido vistoriada. Assim, o tráfego foi suspenso e a linha consequentemente desativada. E vários e vários outros exemplos similares podem ser dados.
Portanto, as teorias da conspiração não passam disso.

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Autor

  • Mozart Rosa

    Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966, que testemunhou o desmonte da E.F. Cantagalo e diversas histórias da Ferrovia de Petrópolis. Se formou Engenheiro Mecânico pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral Trilhos do Rio no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de redator do site, assessor de contatos corporativos e diretor-técnico.

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