✍️ Mozart Rosa, com colaborações de Carlos Eduardo, professor; e Thales Veiga, arquiteto
📅 23/06/2020
🕚 21h51
📷 Capa: Bonde de luxo: carro construído em 1868 para servir ao Imperador D. Pedro II. e mais tarde transferido para a tração elétrica. Imagem publicada pelo Jornal do Brasil em 22 de julho de 1965 edição nº169, Original do Arquivo da Rio Light. Autor: Mortimer, E.A. – Acervo Brício de Abreu
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Bondes no Rio de Janeiro
O nome BONDE surgiu em meados de 1872. Naquela época, as passagens custavam 200 réis, e não existiam moedas de prata cunhadas deste valor em circulação. Assim, a empresa emitiu pequenos cupons ou bilhetes em grupo de cinco, pelo preço de mil réis, devido à grande quantidade de cédulas deste valor em circulação.
Os bilhetes, ricamente ilustrados impressos nos EUA, eram conhecidos como “Bonds”, (bônus, ação).
A própria empresa denominava por “Bond” os tais cupons, por entender que representava o compromisso assumido de, em troca desse bilhete, transportar o portador em seus veículos. Com o tempo o povo passou a denominar o próprio sistema ferro-carril urbano como Bond, designação que mais tarde se consagrou com o neologismo “Bonde”. Neste caso, aconteceu com o nome Bonde o mesmo que o nome Gari, que do Rio de Janeiro se espalhou para o Brasil.
O Bonde de Santa Teresa
O Bonde de Santa Teresa faz parte da geração II de Bondes elétricos implantados no mundo. Bondes iguais aos nossos existiam em São Francisco, nos EUA, por exemplo. Entretanto, com o Terremoto de 1906 ocorrido lá, todos foram destruídos e trocados pelos modelos de terceira geração.
A última grande reforma feita no sistema foi na gestão Marcelo Alencar, realizada pelo Engº Luiz Paulo, atual deputado estadual. Antes disso, na década de 1980, durante o Governo Moreira Franco, o serviço foi licitado para uma concessionária. Esse foi um dos primeiros processos de licitação de serviço público do Rio de Janeiro nos tempos modernos. Na ocasião, o grupo ganhador foi o grupo empresarial então dono da rede de postos Itaipava, atualmente inexistente. Contudo, o negócio não foi à frente e o contrato foi cancelado por pressões dos moradores, liderados por um então desconhecido professor de história e atual Deputado Federal, que ali iniciou sua carreira política. Foi uma pena, pois era previsto o uso de Bondes modernos e fechados, com equipamentos de segurança inexistentes nos bondes da época e inexistentes nos bondes acidentados em 2011.
Um conhecido engenheiro mecânico, já falecido, e fundador de uma grande empresa de tratamento térmico do estado do Rio de Janeiro, começou sua carreira profissional como artífice da antiga CTC (Companhia de Transportes Coletivos). Cresceu, montou sua empresa, e foi durante anos o responsável pelo tratamento térmico dos fundidos utilizados nos freios dos Bondes. Já em 1980 reclamava da dificuldade em conseguir dar a esses fundidos a dureza necessária, para garantir a frenagem. Lembremos que o sistema de frenagem original não era pneumático.
Revitalização do modal BONDE na Cidade do Rio de Janeiro
Identidade visual: Da primeira geração do elétrico até a geração III (dos bondes “cara-dura” da light, em madeira), quase nada foi mudado na concepção do desenho do veículo, formando-se uma FORTE IDENTIDADE VISUAL, identificando-se o “ser” bonde com tais veículos. Com o modelo “Bataclan” (geração II), dos quais cerca de 30 continuaram circulando no Rio, como nos bairros de Campo Grande, Alto da Boa Vista e Santa Teresa (apenas os últimos sobreviveram), essa identidade visual foi cimentada nas novas gerações e protegida por lei. O único bonde de geração IV a circular no Rio, o fechado e metálico “Rita Pavone”, não chegou a marcar sua época, além de pecar por ser extremamente parecido com qualquer modelo de ônibus urbano elétrico de então. Imaginava-se que, se o bonde era para ser uma “imitação” de ônibus, mais prático e barato seria colocar um ônibus real para circular naqueles lados.
Mas apesar de muitos se esquecerem o bonde fechado SEMPRE EXISTIU, na versão do modelo “Taioba” um reboque leve, desmotorizado, com uma grande porta central, janelas e bancos longitudinais. Em países asiáticos e nos EUA, bem como na própria América do Sul, os modelos fechados sempre foram preferidos aos abertos.
Os problemas decorrentes do obsoletismo técnico geraram uma série de transtornos na operação, que se tornou deficitária, ao mesmo tempo que a operação por parte da CTC entrou em um grande dilema: se mudassem a “cara”, a identidade visual do bonde, o meio de transporte perderia o sentido (seria mais prático e barato operar ônibus). Por outro lado, a dificuldade em adaptar o bonde aos novos tempos (grande progresso técnico acompanhado infelizmente de grande retrocesso na questão da urbanidade da população) se tornava ainda pior pela total falta de investimentos em um sistema considerado “fóssil”.
Após o terrível acidente que vitimou fatalmente várias pessoas no ano de 2011, imaginou-se, com técnicos da Cia Carris de Lisboa, uma modernização do veículo em si. Mas, ao contrário do Rio, em Lisboa temos 100% da frota fechada, um convívio harmônico entre veículos centenários, modernizados e VLTs.
Os bondes que estão rodando hoje em Santa Teresa, ou que estão em estoque, NÃO SÃO ORIGINAIS, são réplicas. Foram muito bem construídos, mas não se resolveu o problema de serem abertos.
E POR QUE há problema em serem abertos?
Os riscos ao usuário hoje são muitos, se comparados aos imagináveis nos anos 1890. Contudo, é bem verdade que nenhum veículo urbano comum resistiria a projéteis de armas de fogo, infelizmente e tragicamente um risco real e comum na realidade atual, mas, por outro lado, é verdade também que a falta de carenagem expõe o usuário, especialmente o que se acomoda na berlinda dos bancos, como:
- Pedradas;
- Furtos;
- Agressões físicas gratuitas;
- Evasão de renda;
- Desembarque irresponsável;
- Arremesso de líquidos;
- Assédio sexual físico;
- Ou ainda pior… ser “cuspido” do veículo em caso de abalroamento ou descarrilamento, sem falar no terrível cenário do bonde “virar”. A falta de carenagem pode ajudar as equipes de socorro, mas, por outro lado, aumenta significativamente as lesões e fatalidades num acidente extremo.
Lembremos do turista francês, que caiu do Bonde nos Arcos da Lapa por olhar a paisagem pendurado.
Para resolver a questão acima, a CENTRAL LOGÍSTICA adotou uma espécie de “barra” que, atravessado nos balaústres do bonde, pode proteger as pessoas de serem eliminadas. Apesar de toda boa vontade e nobreza de intenções dos engenheiros da T’Trans, tal método mostrou-se ineficaz e irritante, atrapalhando a característica mais básica do veículo: o embarque e desembarque simples e imediato.
Por outro lado, os bondes “cara-dura” da Light, e os “Bataclan” de Campo Grande JÁ ERAM FECHADOS, com malha rígida de aço no lado esquerdo (o lado que dá para rua) desde meados dos anos 1940, sem que houvesse registro algum de reclamações ou insatisfações por parte dos usuários, justamente para protegê-los dos crescentes conflitos com os automóveis.
Mas efetivamente, qual foi o motivo do Fracasso e Desativação dos Bondes?
Antes de falarmos sobre propostas futuras, é preciso entender o passado. Por que os bondes acabaram realmente? Sempre voltamos a Getúlio Vargas e suas trapalhadas. Getúlio, a quintessência dos populistas, resolve no seu período ditatorial congelar os preços das passagens. Congelamento nunca funciona, nem nunca funcionou, veja o congelamento do período José Sarney. A Light e outras empresas que operavam bondes, sem poder repassar os custos para as passagens, simplesmente não investiram em modernização do sistema, incluindo aí veículos mais novos. Foi por isso que nunca saímos da geração III de Bondes. Mais uma vez, a intromissão do governo na economia gerou confusão.
Para Francisco Negrão de Lima, Governador do então estado da Guanabara de 1965 a 1971, dentre outros governantes da década de 60, foi melhor extinguir o sistema já deficitário, decrépito, antiquado, sem investimentos nos últimos 20 anos anteriores, do que investir em sua modernização.
Se em algum momento você viu um vídeo falando sobre o que a GM fez em algumas cidades americanas para acabar com o Bonde e foi punida por isso, atente para que isso foi lá. A nossa realidade aqui foi bem diferente.
O vídeo é este abaixo:
Agradecemos a atenção até aqui, esperamos que tenha feito uma boa leitura. Esta é a segunda parte, convidamos a relembrar ou acompanhar a continuação dos outros capítulos dessa série, clicando nos links a seguir:
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