✍️ Daddo Moreira
📅 22/02/2025
🕚 16h
📷 Divulgação R7
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Escavações na antiga Fazenda Sapopemba, na Vila Militar, zona oeste do Rio de Janeiro, revelaram vestígios de um suposto sistema de transporte pré-ferroviário e que também podem destacar a influência africana na história da cidade. Durante obras para o 2º Regimento de Cavalaria, foram encontrados restos de trilhos em duas camadas estratigráficas, possivelmente uma ligada à Fazenda Sapopemba e outra a um engenho anterior. Esses achados são significativos para entender a evolução dos transportes na região, pois podem ser até mais antigos do que a primeira ferrovia do Brasil, a Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petropolis (Estrada de Ferro Mauá), inaugurada em 1854; e a inauguração da Estrada de Ferro Dom Pedro II, posteriormente Estrada de Ferro Central do Brasil, que iniciou as operações na região de Sapopemba, atual Deodoro, em 1858.

O escritor e historiador André Luis Mansur destacou que essas descobertas podem reescrever a história das ferrovias no Brasil, sugerindo que o sistema de transporte na região era rudimentar e utilizava trabalho escravizado para movimentar produtos agrícolas. A Fazenda Sapopemba, fundada em 1612, foi um importante centro produtivo de açúcar e outros itens, passando por várias mãos ao longo do tempo. Segundo pesquisas realizadas há alguns anos por membros Trilhos do Rio, a região era atendida e cortada por várias ferrovias, tanto às linhas pertencentes à Estrada de Ferro Dom Pedro II, quanto às que atendiam as fazendas e instalações militares, como o Campo dos Afonsos e o do Gericinó.

Os vestígios encontrados mostram dois tipos de trilhos: um associado à estação de trem inaugurada em 1858 e outro mais antigo, do período pré-ferroviário. Isso sugere que, muito antes da ferrovia oficial, a região já experimentava formas alternativas de transporte.
- Camada mais recente: Associada à Fazenda Sapopemba, que, em 1858, teve sua estação de trem inaugurada — uma das primeiras da Estrada de Ferro D. Pedro II — e possuía um ramal particular de cerca de 1,5 km.
- Camada mais antiga: Proveniente de um engenho que antecedeu o sistema ferroviário oficial, sugerindo que já se experimentava, de maneira rudimentar, o uso de trilhos para o transporte de produtos agrícolas e insumos.

Embora aspectos técnicos específicos, como as medidas exatas da viga “I” e a bitola dos trilhos encontrados, ainda exijam mais investigações para um entendimento completo, a descoberta é de grande relevância histórica. Ela revela que, muito antes da construção das ferrovias como conhecemos hoje, a região já se utilizava de sistemas alternativos de transporte, adaptados às condições e exigências logísticas do período. Esses vestígios indicam que, com base nas necessidades locais de movimentação de mercadorias e pessoas, a região experimentou soluções inovadoras para a mobilidade, um reflexo de como a sociedade da época buscava se adequar ao crescimento econômico e ao aumento das atividades comerciais, mesmo sem a infraestrutura ferroviária formalmente estabelecida. Esse achado pode abrir novas possibilidades para repensar a evolução dos transportes no Brasil, destacando práticas primitivas que podem ter influenciado diretamente o desenvolvimento posterior dos transportes, até mesmo em outras regiões. Isso, inclusive, já foi comentado aqui no site Trilhos do Rio, como um possível sistema sobre trilhos instalado em Paraty, em épocas anteriores às primeiras ferrovias do Brasil.
A descoberta na antiga Fazenda Sapopemba vai além da história dos transportes, mas permite também uma nova perspectiva sobre o legado africano na região. Vestígios dos trabalhadores e suas tradições podem revelar aspectos inéditos de suas atividades e cotidiano, mostrando sua contribuição essencial para a economia e cultura locais, apesar das adversidades da escravidão. A presença africana foi fundamental na formação do Rio de Janeiro, que infelizmente foi um dos principais portos de entrada de africanos escravizados entre os séculos XVI e XIX, com milhões de pessoas forçadas a chegar de diferentes etnias, como os Bantos e os Iorubás. Embora a escravidão represente dor e sofrimento, é essencial preservar as histórias e memórias daqueles que resistiram e ajudaram a moldar a identidade brasileira, um esforço que a legislação busca apoiar, equilibrando o desenvolvimento urbano com a valorização desse patrimônio cultural.
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