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✍️ Mozart Rosa
📅 20/05/2020
🕚 12h
📷 Capa: Canhão ferroviário no Museu Militar Conde de Linhares, em São Cristóvão – Imagem: Daddo Moreira




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Dando continuidade a uma série de textos de cunho eminentemente técnico, iremos explicar os prováveis motivos da queda do setor na totalidade, ao longo de anos. Tentaremos assim esclarecer diversos pontos que até hoje são debatidos, mas por vezes equivocadamente divulgados e defendidos, e assim demolir uma série de mitos.
Boa Leitura a todos.

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As Teorias da Conspiração

No universo das pessoas sérias e idôneas (e a maioria é) que ao longo dos anos têm de alguma forma feito algo para o retorno da ferrovia:

  • A grande maioria nunca na vida leu um balanço;
  • A grande maioria nunca na vida teve um negócio por menor que seja;
  • A grande maioria nunca na vida trabalhou com logística;
  • A grande maioria nunca na vida trabalhou em uma estatal ou, quando o fez, ocupou cargos de nível subalterno, não entendendo as nuances de poder e os interesses envolvidos no cotidiano de uma empresa pública.

Sendo assim, ao longo do tempo se criaram teorias da conspiração tentando explicar os motivos do declínio do setor, que com o tempo viraram verdades quase absolutas:

  • Os militares acabaram com as ferrovias;
  • A indústria automobilística acabou com as ferrovias;
  • Os empresários do ônibus acabaram com as ferrovias;
  • Com a queda do café as ferrovias acabaram;
  • Empresa particular não tem capacidade de construir ferrovia;
  • Bitola métrica não presta.
Auto Trem Paulista, transporte de caminhões por ferrovia Fonte: Blog Trens da Vida
Blindados do Exército sendo levados de trem de Uberlândia para Brasília Fonte: Defesa Aérea e Naval

 

 

Trem da RFFSA com automóveis Fiat na região da Serra da Mantiqueira nos anos 1980 — Pedro Rezende. Fonte: Flickr

 

E por aí vai. Existem muitas outras. Cada um criou sua verdade sem nenhuma pesquisa mais profunda, ou apenas repetiu como verdade algo que alguém falou.

Apresentamos nessa série de postagens uma grande quantidade de fatos facilmente comprováveis, mostrando as verdadeiras razões do fracasso das ferrovias no país sob vários aspectos. O problema é que, como ninguém pesquisou realmente os problemas para entendê-los, a teoria virou verdade. Lamentavelmente, quem acreditou em toda essa balela não foi apenas o aposentado, a dona de casa ou o estudante, mas também pessoas com poder de mando: deputados, senadores, funcionários públicos graduados, dentre outros, que acreditando em muita bobagem sempre olharam a ferrovia com desconfiança.

VEJA TAMBÉM  O motivo do fracasso das ferrovias no Brasil (9 – III) — Quem efetivamente acabou com as ferrovias?

Durante o Governo de José Sarney (1985–1990), no início da Ferrovia norte-Sul, um funcionário graduado do então Ministério do Transporte declarou em alto e bom som que “Fizemos o traçado da Ferrovia norte-Sul de modo que ela não passe próximo a nenhuma cidade”. Os objetivos foram diversos, mas isso restringiu o objetivo da ferrovia a apenas um setor: o transporte de cargas.

Posteriormente, Moreira Franco, então Ministro de Dilma Rousseff e depois de Michel Temer, declarou que não é viável o transporte de passageiros regional no Brasil (ouçam o áudio, logo abaixo).

Durante o programa “A Voz do Brasil” o ministro dos transportes, portos e aviação civil, Maurício Quintela, e Wellington Moreira Franco, do Programa de Parceria de Investimentos, comentam sobre a prorrogação de contratos no setor. Fonte: Radiobrás

Ouça abaixo o áudio com a declaração de Moreira Franco sobre o tema:

Delmo Pinho, Secretário estadual de transportes do Rio de Janeiro, em entrevista, vinculou o declínio de algumas ferrovias com a derrocada do café. O que não condiz com a realidade como mostraremos mais à frente.

As teorias da conspiração foram muito ruins para o setor. Não existe hoje algum livro que mostre o que realmente aconteceu, são histórias que se repetem e nenhum estudo profundo foi feito.

A verdadeira história ainda precisa ser contada.

Esse é o objetivo dessas postagens.

Reflitam.

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Autor

  • Mozart Rosa

    Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966, que testemunhou o desmonte da E.F. Cantagalo e diversas histórias da Ferrovia de Petrópolis. Se formou Engenheiro Mecânico pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral Trilhos do Rio no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de redator do site, assessor de contatos corporativos e diretor-técnico.

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