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O TREM DOS ESQUECIDOS (PARTE 2 – FINAL)

OS TRENS PARA VILA INHOMIRIM E GUAPIMIRIM
A situação desses ramais, ao invés de serem solucionados, transformou-se numa questão meramente política onde o desinteresse e a má vontade sempre predominaram. Um novo e cruel capítulo para a história ferroviária brasileira estava sendo escrito, atingindo ao máximo os subúrbios da Leopoldina, que era uma ferrovia de dimensões colossais, exclusivamente composta pela bitola métrica.
E o pior: ainda hoje não tivemos um desfecho para a saga que muitos tratam como “A guerra das bitolas”.
Essa queda de braços interminável parecia ter chegado ao fim com a adoção da bitola mista, larga e estreita, enfim fariam as pazes e promoveriam a expansão e o progresso ferroviário, pois quando necessariamente coubesse estarem juntas harmoniosamente ocupando o mesmo espaço. Mas não foi bem assim…

A LEOPOLDINA VIROU CENTRAL?




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Sobre a substituição da bitola métrica pela bitola larga, isso se deu numa tentativa equivocada de transformar a Leopoldina no modelo Central do Brasil — ora, o bom senso diz que isso não se devia ser feito numa ferrovia de dimensões colossais como era a Leopoldina, seu sistema suburbano fora devolvido a união em 1950, necessitando apenas de modernização nas suas vias originais e renovação da frota que, em parte, ainda consistia de composições de madeira tracionados pelas mesmas diesel-elétricas que ainda se encontravam em condições de tráfego. Claro que em número maior, pois muitas locomotivas foram remanejadas pela RFFSA e CBTU para suas regionais durante o processo de desestatização, o que resultou no complicado sistema operado pela famigerada Supervia. Assim não há de se negar que esta segurou um grande abacaxi e não consegue administrar o caos.

Na verdade, a concessionária parece estar se vingando quando não investe no trecho que, a bem da verdade, do jeito que está não atrai demanda.

Desde os tempos de sua encampação forçada pela União, a Leopoldina passou a estar sob a ameaça de ser varrida do mapa. Eu não tenho nenhuma dificuldade de perceber que a RFFSA cumpriu à risca esse propósito. Antigos ferroviários reclamavam que tudo se transformou na coisa só, “Central e Leopoldina”, e a identidade da ferrovia estava se perdendo, sua tradição dos tempos de glória já há anos antes havia se acabado por conta das dificuldades “insolúveis”. Por fim, a RFFSA acabou com todas, e seus nomes originais foram erradicados de vez no início dos anos 1970.

VEJA TAMBÉM  O trem dos esquecidos (parte 1)

De uns tempos para cá, falou-se muito na introdução de VLTs partindo de Saracuruna em direção à Vila Inhomirim e Guapimirim, mas pra mim é tudo “conversa fiada”. No meu entender, o VLT é uma medida paliativa, posto o considerável aumento da demanda de passageiros caso estendessem a eletrificação em bitola larga que parou em Saracuruna para todo o sistema. Isso exigiria mexer em toda a estrutura nos trechos compreendidos pela bitola métrica.

E SE HOUVESSE ELETRIFICADO A LEOPOLDINA EM SUA BITOLA ORIGINAL?

Tal pergunta, se feita, merece pronta resposta — creio que ainda teríamos diversas composições partindo do terminal Barão de Mauá, sem essas ridículas e cansativas baldeações em Gramacho e Saracuruna, como nos velhos tempos da Leopoldina. Éramos felizes e não sabíamos, mesmo viajando nas velhas composições de madeira. Hoje até temos trens elétricos, modernos e climatizados, mas parece que a coisa foi realizada equivocadamente, o modelo de eletrificação dos subúrbios da Leopoldina seguiu o padrão da Central, com a trágica e comprovadamente equivocada substituição das bitolas sendo realizadas a passos demasiadamente lentos e que, inexplicavelmente, parou no meio do caminho e não andou mais. Não passa de Saracuruna, e nem mesmo a segunda via eletrificada entre Gramacho e Saracuruna sai do papel.

No início dos anos 1970 todos os trens suburbanos que serviam aos ramais de Vila Inhomirim e Guapimirim partiam do terminal Barão de Mauá cumprindo uma tabela diuturna. Em 1974 foram introduzidas composições de aço no trecho Barão de Mauá e Vila Inhomirim, e estas composições tornaram-se conhecidas como “Cavalo de Aço” por conta da novela da TV Globo. A intenção era introduzi-las também no trecho Barão de Mauá – Guapimirim e Niterói – Visconde de Itaboraí, e somente após 1978, com a chegada dos carros PIDNER, foram contemplados esses trechos.

Nunca houve a ligação suburbana entre Magé e Visconde de Itaboraí, o que é uma pena, pois hoje não é mais possível. Em 1976, a ordem do Exmo Sr. Presidente Ernesto Geisel, tendo como executor o Ministro do Transporte Mário Andreazza e o diretor-presidente da RFFSA, o Cel. Carlos Aloysio Weber, colocou em prática o plano de eletrificação em bitola larga do trecho entre Barão de Mauá e São Cristóvão. Isso permitiu a ligação por trens elétricos entre Barão de Mauá e Duque de Caxias. O pátio da gare Barão de Mauá, a partir de então, seria todo refeito com bitolas de 1.600 mm a fim de permitir que trens elétricos padrão Central do Brasil tivessem acesso às suas plataformas.
Apenas uma via de bitola métrica fora mantida, a fim de permitir partidas e chegadas de trens de passageiros do interior, como a Litorina campista, os expressos campista e mineiro, o Cacique e o Inconfidentes.
Na época havia-se criado a Divisão Especial de Subúrbios do Grande Rio, transferindo-se assim a diretoria da velha Leopoldina para Campos, e separando os setores de cargas e subúrbios.
Mas, para as obras de substituição das bitolas em Barão de Mauá, decidiram por suprimir definitivamente o tráfego em bitola métrica entre este terminal e Duque de Caxias.
As composições de bitola métrica passaram a ter suas partidas para Vila Inhomirim de Duque de Caxias, e de Saracuruna as composições para Guapimirim, criando-se então duas baldeações demasiadamente tumultuadas e cansativas, dado aí o enorme número de passageiros transportados pelos trens naquela época.

A conclusão que tenho era que o Gen. Ernesto Geisel, apesar de suas aparentes boas intenções, foi muito mal assessorado, pois nenhum dos dois, Azza e Weber apesar de militares altamente capacitados para suas funções na caserna, parecerem entenderem nada de ferrovia. Bastava introduzir bitolas mistas entre São Cristóvão e Barão de Mauá que teríamos trens elétricos de bitola larga até Duque de Caxias. Bastava modernizar a bitola métrica original da Leopoldina, que teríamos trens elétricos partindo de Vila Inhomirim e Guapimirim acessando até agora as plataformas daquele terminal.Cabe lembrar que não era necessário destruir as linhas que estavam prontas, isso foi por mero capricho político, Valia a pena modernizar a bitola original da Leopoldina, valia a pena ter eletrificado aquele sistema de bitola métrica que os ingleses construíram e entregaram ao governo federal em 1950, apesar de precário, mas ainda em perfeitas condições de uso, valia a pena manter o tráfego de trens suburbanos entre Barão de Mauá e Vila Inhomirim/Guapimirim. Sim, vale a pena, pois perdemos um grande terminal ferroviário, a bela gare Barão de Mauá, que mesmo do jeito que está, merece ser revitalizada, e ser novamente devolvida à população, pois seu abandono se traduz em um crime com crueldade, uma covardia para com o patrimônio público, para conosco, para o povo que sempre vai às urnas confiando em dias melhores.A bitola métrica ainda existe, enfim o que dela restou, no reduzido trecho Saracuruna – Vila Inhomirim/Guapimirim, precisa ter um olhar voltado para ela. Talvez um dia os trilhos avancem novamente até Barão de Mauá, talvez a guerra das bitolas tenha fim.

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Precisamos de concorrência. Precisamos de mais empresas ferroviárias que disputem oferta e demanda.

Seria bom que os leitores deste humilde arrazoado conheçam o sistema malaio de trens elétricos de bitola métrica.

A KTM-ETS é a empresa ferroviária da Malásia, assistam no YouTube. Imaginem, então, trens elétricos modernos e climatizados de bitola métrica partindo de Barão de Mauá para Vila Inhomirim e Guapimirim como nos velhos tempos, isso é possível e muito melhor que VLT, imagine como nesta ilustração elaborada por mim (foto de capa) esse trem moderno implantados em nossos esquecidos ramais.

Lembrem-se, “O Trem dos Esquecidos” tem história e pode ser protagonista de um novo e impactante capítulo da história ferroviária do Rio de Janeiro.

 

Texto escrito em 23 de fevereiro de 2021 às 13h55
Última atualização em 30 de outubro de 2024 às 13h55
Imagem de capa: Wilson PS

 

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Autor

  • Wilson PS

    Wilson PS é escritor e artista plástico especializado, dentre outros assuntos, em retratos de ferrovias, principalmente no tema "Estrada de Ferro Leopoldina", campo onde detém vasto conhecimento e experiência. Além de saudosista e pesquisador da citada ferrovia também é responsável pela iniciativa "Leopoldina Renasce na Arte", que conta com uma página no Facebook e um blog pessoal, onde são divulgados seus desenhos e pinturas.

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