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✍️ Mozart Rosa
📅 18/09/2020
🕚 12h00
📷 Canal 2020 Supervia Eric – Japeri




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No artigo anterior, você conheceu detalhes do Projeto Pavuna x Arco Metropolitano, suas características e fatores que o tornam, no mínimo, um projeto equivocado. Hoje você vai conhecer uma alternativa a este projeto.

Projetos Trilhos do Rio 1: o Expresso Santa Rita

Como visto no texto anterior, vários fatores não parecem ter sido levados em conta na elaboração do projeto Pavuna x Arco Metropolitano, entre eles a anuência da concessionária que administra o trecho onde se tem a intenção de se instalar linhas paralelas para transporte de passageiros. Por que não construir, nessa faixa de domínio e paralela à linha existente, uma linha férrea convencional e não VLTs, para fazer esse serviço de passageiros e manter segregada a linha de cargas?

 

Tudo isso em parceria com a MRS Logística

 

A linha em questão, e já detalhada anteriormente, é a usada pela MRS Logística para transporte de cargas, e propomos que continue assim, mas com maior velocidade operacional. Retomando à velocidade média operante ou ainda maior que na década de 80.

 

E a MRS Logística? O que ganha com isso? Muito!

 

Trem da MRS passando próximo ao bairro de Santa Rita, em Nova Iguaçu. Fonte: Thiago Ferroviário (Youtube)

 

O que propomos neste projeto é uma parceria entre a MRS Logística e a Supervia, com o apoio do Governo Federal e intermediada pelo Governo Estadual, respeitando os contratos assinados onde ambas as empresas, por meio de um consórcio, atuassem em conjunto cada uma cuidando de seus interesses, mas com objetivos e um resultado que traga benefícios para ambas as empresas e para a coletividade.

Trens da MRS e da Supervia circulando em Japeri (2019) Fonte: Canal Supervia 2020 Eric – Japeri (Youtube)

 

Este consórcio construiria alguns viadutos ferroviários, a serem utilizados por ambas as empresas, nas áreas mais sensíveis e com maior densidade populacional, eliminando diversas passagens de nível, aumentando consideravelmente a velocidade média das composições ferroviárias e segregando as linhas. Tudo isso com a Supervia construindo suas linhas em paralelo à linha existente e operada pela MRS Logística, tendo ainda essas vias conectadas às linhas já existentes do ramal de Belford Roxo beneficiando, dentre outras, as seguintes localidades:

  • Costa Barros;
  • São Mateus;
  • Thomazinho;
  • Éden;
  • Rocha Sobrinho;
  • Prata;
  • Andrade Araújo;
  • Cayoaba;
  • Ambaí;
  • Santa Rita.
Neste mapa pode-se observar a região abrangida pelo projeto. O trecho tracejado indica uma expansão futura para Engenheiro Pedreira e Japeri Fonte: Trilhos do Rio

Esse consorcio, pelos benefícios que terá implantado essa nova forma de operação, pode ainda como contrapartida ajudar ou até mesmo se responsabilizar pela urbanização de alguns trechos, com custo zero para o governo. É importante que a ferrovia traga benefícios para a população por onde os trilhos passem, não apenas no sentido de transporte e mobilidade, mas também em outras áreas para toda a coletividade.

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Essa é apenas a proposta conceitual de uma das estações. O objetivo é acabar com as mais de 15 PNs ao longo da linha. Outras soluções podem ser usadas, estações elevadas, por exemplo, semelhantes às do Metrô. Fonte: Trilhos do Rio

 

Com o isolamento das linhas da MRS Logística outro fator importante é que, depois das intervenções concluídas, a empresa teria sua linha, em alguns trechos elevada, mas segregada em todo o trecho, sem os riscos de atropelamentos e sem sofrer os vandalismos que sofre hoje. Ainda por cima, aumentaria consideravelmente sua velocidade média, com isso aumentando seus negócios no trecho.

Proposta de elevação de via em trecho da Linha Auxiliar, com reurbanização do entorno Fonte: Trilhos do Rio

 

Por outro lado, a Supervia acrescentaria a sua rede (via Ramal de Belford Roxo, que infelizmente é um ramal hoje decadente, mal aproveitado e carente de intervenções externas) mais 400.000 passageiros por dia, em sua maioria moradores da região, podendo posteriormente com isso revitalizar todo o ramal (Essa parte do projeto nós já temos, mas fica para uma próxima postagem).

A estação Irajá da linha 2 do Metrô é um bom exemplo de estação suspensa que pode ser construída no trecho. Fonte: Wikimapia

 

A proposta dentro dessa visão empresarial poderá ter boa acolhida

 

Estações de passageiros no ramal de Japeri, como Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis, operadas pela Supervia, terão sua ocupação diminuída e distribuída para uma linha “concorrente”, pertencente à própria Supervia.

Trens da MRS e da Supervia passando pela estação Engenheiro Pedreira, ramal Japeri Foto: Canal Nas Ferrovias (Youtube )

 

Ao abraçar a ideia, além de agregar o número já citado de passageiros, a Supervia consegue em parte equilibrar seu sistema, aumentando suas possibilidades operacionais e comerciais. Terá menos superlotação dos trens no horário de rush no Ramal de Japeri, com maior conforto dos passageiros. Futuramente, ainda se tem a possibilidade de atrair mais passageiros para este ramal, devido à confiabilidade.

Essa pode ser uma proposta de grande impacto social e econômico, que acaba sendo ignorada por engenheiros e outros responsáveis em detrimento de ideias “importadas”: fazer nesse trecho assim como foi feito pela Cia.do Metropolitano e o, na época, secretário de transportes, Luiz Paulo Correia da Rocha no trecho Pavuna x Maria da Graça, que trouxe muitos benefícios para a população do entorno de toda a linha 2 do Metrô.

Proposta de elevação de via em trecho da Linha Auxiliar, com reurbanização do entorno Fonte: Trilhos do Rio

 

Uma proposta que consulte antes as empresas envolvidas, respeita contratos, respeita o mercado, respeita as empresas, uma proposta que confere seriedade às ações governamentais, gera confiança, e não uma proposta que parece ter sido feita de modo afobado, sem planejamento adequado e sem considerar diversos fatores que podem impedir a execução de um projeto e sua viabilidade na totalidade. O ideal é uma proposta que apresente o mais importante: a solução financeira, transferindo para as empresas, o investimento, dando obviamente a elas uma contrapartida.

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Ao estado compete investir em saúde, segurança e educação, e quando muito financiar projetos de mobilidade. Esse projeto é um exemplo.

 

É preciso “combinar com os russos”

 

Sobre esse comentário, relembramos o texto Trilhos do Rio sobre Mané Garrincha e os russos, publicado em nossa postagem com propostas para o BRT Carioca, o contexto é o mesmo, vale a pena ler:

 

Para entender a extensão do problema em sua plenitude vamos relembrar um dos mais memoráveis personagens esportivos da história do Brasil e uma das situações mais folclóricas do futebol brasileiro. Quem se lembra de Garrincha, jogador de pernas tortas, jogador folclórico, que muitas alegrias trouxe a população brasileira? Reza a lenda que ao ouvir a preleção do técnico Vicente Feola a respeito da tática a ser usada para ganharem o jogo, Garrincha, cuja carreira seria marcada por sua irreverência, mas também certa indisciplina, escutou tudo isso e depois perguntou: “Tá legal, seu Feola… mas o senhor já combinou tudo isso com os russos?”

 

Gastaram dinheiro com um projeto e em nenhum momento perguntaram a quem tem o direito legal de usar a faixa de domínio se ela permitiria isso, ou seja, “não falaram com os russos”, no caso a MRS logística. Um projeto em si bonito e bem-feito, mas sem nenhuma viabilidade jurídica de ser executado.

O vídeo mostra o percurso proposto para o projeto e algumas possíveis estações a serem implantadas
Fonte: Trilhos do Rio

Será que esses relatos conseguem fazer os defensores do governo, de qualquer governo, entender o motivo de tantos projetos não saírem do papel? De tantos outros projetos que não são nem tão ruins assim, mas que simplesmente não acontecem. Alguns são apenas mal concebidos, mas na maioria seus idealizadores “não combinam antes com os russos”, pela empáfia de alguns dos envolvidos, algo corriqueiro no serviço público. O que é lamentável.

Queremos encerrar esse texto com algo dito de forma corriqueira pela equipe Trilhos do Rio, mas que poucos dão atenção:

 

“Diferente de rodovias, ferrovias são um negócio. Como esse setor pode ser influenciado por gente que nunca na vida geriu ou tem noção de como é gerir ao menos uma barraca de cachorro-quente? Que jamais passou pelas adversidades pelas quais passam empresários no Brasil?”

 

É interessante ter tudo isso em mente ao desenvolver projetos de mobilidade sobre trilhos.

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Reflitam.

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Agradecemos a leitura. Até a próxima!

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Autor

  • Mozart Rosa

    Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966, que testemunhou o desmonte da E.F. Cantagalo e diversas histórias da Ferrovia de Petrópolis. Se formou Engenheiro Mecânico pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral Trilhos do Rio no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de redator do site, assessor de contatos corporativos e diretor-técnico.

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