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✍️ Mozart Rosa
📅 14/02/2025
🕚 11h55
📷 KsanderDN / Shutterstock




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Diferente do que sempre fazemos, nosso objetivo hoje não é explicar o passado. Mas o presente, tentar mostrar os motivos que estão levando, atualmente, nosso sistema ferroviário a ser essa verdadeira tragédia, e se manter estagnado.

O que queremos é mostrar o que está impedindo o nosso sistema ferroviário de decolar, de sair da estagnação e do marasmo em que se encontra.

Para isso por meio de uma analogia tentaremos mostrar o que está acontecendo nos bastidores, algo que a população desconhece e não consegue compreender.

Contaremos uma história distópica, fantasiosa, mas tentem entrar no espírito da coisa. Vamos viajar nas asas da imaginação.

Usaremos o recurso usado em diversas séries, e pela Marvel, do Multiverso, onde isso permite diversas reinterpretações e diversas novas formas de contar histórias em HQ e filmes.

Vamos à nossa.


O multiverso da loucura, o Brasil da realidade paralela e sua distopia e o que as ferrovias têm a ver com isso.

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Vamos começar nossa história com o famoso “era uma vez”, onde em um mundo distópico, em algum universo paralelo, em um Brasil da realidade paralela a Rede Globo nunca existiu, nem ela e nem as estações de TV, tradicionais, existiram no passado dessa nova realidade, emissoras que faliram como TV Continental, TV Rio, TV Excelsior e outras. No presente só existia o rádio.

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Nessa realidade paralela, nesse multiverso, existiu a TV Tupi, que foi uma empresa estatal extinta pelos pesados prejuízos.

Uma imagem contendo Logotipo da Rede Tupi de Televisão

A população e os políticos queriam novas estações de TV, mas ninguém sabia como fazer isso. Para isso, criaram comissões parlamentares visando reativar ou criar essas novas estações. A população, por sua vez, criava teorias mirabolantes para explicar o que aconteceu. Diversos profissionais oriundos dessa TV extinta apareciam para tentar ajudar.

Nessas comissões, aparecia o operador de áudio dando seu pitaco, dizendo entender tudo sobre televisão.

Aparecia o chefe de almoxarifado dizendo entender tudo sobre televisão.

Aparecia o maquinista dizendo entender tudo sobre televisão. Maquinista em TV é o profissional que na madrugada monta nos estúdios os cenários que vão ser usados no dia seguinte, nas gravações.

Aparecia o cabo man, aquele cidadão que cuidava dos cabos dos equipamentos de som dizendo entender tudo sobre Televisão.

Aparecia o roteirista, dizendo entender tudo sobre TV.

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Aparecia o cenógrafo, dizendo entender tudo sobre TV.

Aparecia o camareiro, dizendo entender tudo sobre TV.

Aparecia o assistente de direção, dizendo entender tudo sobre TV

Mas pasmem, não aparecia nenhum ex-diretor de nenhuma daquelas estações de TV, apareciam apenas pessoas subalternas, que entendiam parte do assunto, mas nenhuma delas conhecia o todo. Nenhuma sabia os motivos da quebra das emissoras de TV, nenhuma entendia a operação de uma TV como empresa. Mas todas se afirmavam especialistas do assunto na totalidade.

Pessoas, que em nosso universo e naquele também, sabiam das coisas como o Boni, Walter Clark se fosse vivo, Daniel Filho, e outros medalhões, não apareciam ou eram convidadas, só essa turma dos escalões mais inferiores.

Eram essas pessoas que participavam das comissões parlamentares e davam palpites, e eram ouvidas pelos parlamentares que nada conheciam de TV, mas acreditavam no que essas pessoas diziam.

Saindo do multiverso fantasioso e voltando para o mundo real, entendem agora o que está acontecendo hoje nos bastidores da política e entendem o motivo do fracasso de comissões como a pró-ferrovias, mineira e a carioca que não viabilizaram que fosse pregado um único metro de trilho no chão? Entendem agora o tipo de pessoa certamente bem-intencionada, que participa dessas comissões dando palpites?

Gostaram de nossa historinha? Esperamos ter mostrado a realidade atual dos bastidores. Pensem.

Como curiosidade série de TV exibida entre 1998 e 2001 que trata do tema dos universos paralelos.

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Nosso artigo termina aqui, esperamos que tenham gostado. Para quem gosta de ler e quiser um pouco mais, publicaremos abaixo um conto que não é nosso, uma fabula que mostra como gente despreparada em cargos de mando faz bobagem e permite que situações sem nenhum fundamento se perpetuem. Ou pessoas que a partir de ideias sem nenhum fundamento criam toda uma mitologia sobre determinado assunto. Isso está acontecendo no setor ferroviário de alguns estados do Brasil e no governo federal.

Uma Fábula de Porcos e Florestas

Desenho com traços pretos em fundo branco O conteúdo gerado por IA pode estar incorreto.

“Certa vez, ocorreu um incêndio num bosque onde havia alguns porcos, assados pelo fogo. Os homens, que até então os comiam crus, experimentaram a carne assada e acharam-na deliciosa. A partir daí, toda vez que queriam comer porco assado incendiavam um bosque. O tempo passou, e o sistema de assar porcos continuou basicamente o mesmo.

Mas as coisas nem sempre funcionavam bem: às vezes os animais ficavam queimados demais ou parcialmente crus. As causas do fracasso do sistema, segundo os especialistas, eram atribuídas à indisciplina dos porcos, que não permaneciam onde deveriam, ou à inconstante natureza do fogo, tão difícil de controlar, ou, ainda, às árvores, excessivamente verdes, ou à umidade da terra, ou ao serviço de informações meteorológicas, que não acertava o lugar, o momento e a quantidade das chuvas.

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As causas eram difíceis de determinar: na verdade, o sistema para assar porcos era muito complexo. Fora montada uma grande estrutura: havia maquinário diversificado, indivíduos dedicados a acender o fogo e especialistas em ventos – os anemotécnicos. Havia um diretor-geral de Assamento e Alimentação Assada, um diretor de Técnicas Ígneas, um administrador-geral de Reflorestamento, uma Comissão de Treinamento Profissional em Porcologia, um Instituto Superior de Cultura e Técnicas Alimentícias e o Bureau Orientador de Reforma Igneooperativas.

Eram milhares de pessoas trabalhando na preparação dos bosques, que logo seriam incendiados. Havia especialistas estrangeiros estudando a importação das melhores árvores e sementes, técnicas para gerar fogo mais intenso, etc. Havia grandes instalações para manter os porcos antes do incêndio, além de mecanismos para deixá-los sair apenas no momento oportuno.

Um dia, um incendiador qualquer resolveu dizer que o problema era fácil de ser resolvido, bastava, primeiramente, matar o porco escolhido, limpando e cortando adequadamente o animal, colocando-o, então, em uma armação metálica sobre brasas, até que o efeito do calor, e não as chamas, assasse a carne.

Tendo sido informado sobre as ideias do funcionário, o diretor-geral de Assamento mandou chamá-lo ao seu gabinete e disse-lhe:

– Tudo o que o senhor propõe está correto, mas não funciona na prática. O que o senhor faria, por exemplo, com os anemotécnicos, caso aplicássemos a sua teoria? E com os acendedores de diversas especialidades? E os especialistas em sementes? Em árvores importadas? E os desenhistas de instalações para porcos, com suas máquinas purificadoras de ar? E os conferencistas e estudiosos que, ano após ano, têm trabalhado no Programa de Reforma e Melhoramentos? Que faço com eles se a sua solução resolver tudo, hein?

– Não sei, disse o funcionário, encabulado.

– O senhor percebe agora que a sua ideia não vem ao encontro daquilo de que necessitamos? O senhor não vê que, se tudo fosse tão simples, nossos especialistas já teriam encontrado a solução há muito tempo? Que outros países já a teriam adotado? O senhor, com certeza, compreende que eu não posso simplesmente convocar os anemotécnicos e dizer-lhes que tudo se resume a utilizar brasinhas, sem chamas? O que o senhor espera que eu faça com os quilômetros de bosques já preparados, cujas árvores não dão frutos e nem têm folhas para dar sombra? E o que fazer com nossos engenheiros em porcopirotecnia? Vamos, diga-me!

– Não sei, senhor.

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– Bem, agora que o senhor conhece as dimensões do problema, não saia dizendo por aí que pode resolver tudo. O problema é bem mais sério do que o senhor imagina. Agora, entre nós, devo recomendar-lhe que não insista nessa sua ideia – isso poderia trazer problemas para o senhor no seu cargo.”

– Juicio a la Escuela Cirigliano. Buenos Aires: F. T. Editorial Humanitas, 1976. In: CINTRA, Marcos, “Globalização, Modernização e Inovação Fiscal”. Política Fiscal. São Paulo: Saraiva, 2009.

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Autor

  • Mozart Rosa

    Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966, que testemunhou o desmonte da E.F. Cantagalo e diversas histórias da Ferrovia de Petrópolis. Se formou Engenheiro Mecânico pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral Trilhos do Rio no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de redator do site, assessor de contatos corporativos e diretor-técnico.

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