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✍️ Mozart Rosa
📅 11/05/2020
🕚 12h00
📷 Capa: Linha do Litoral da E. F. Leopoldina – Imagem: Daddo Moreira, 2017




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Dando continuidade a uma série de textos de cunho eminentemente técnico, iremos explicar os prováveis motivos da queda do setor na totalidade, ao longo de anos. Tentaremos assim esclarecer diversos pontos que até hoje são debatidos, mas por vezes equivocadamente divulgados e defendidos, e assim demolir uma série de mitos.
Agradecemos a visita e desejamos a todos uma excelente leitura.

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Os traçados muito ruins e a velocidade insuficiente

 

Quando as ferrovias começaram a ser construídas, o Brasil era desconhecido até pelos brasileiros. Nem sempre os traçados eram os melhores e, além disso, um fator pouco comentado, que hoje é extremamente importante, na época era negligenciado: VELOCIDADE. Sim! Velocidade. Atualmente é um fator preponderante, na época não. Se fala muito atualmente do trem-bala com velocidade acima de 300 km/h, mas nossas locomotivas a Vapor na época, com seus 40 km/h, eram os veículos mais rápidos existentes. Segundo os jornais da época, era “uma velocidade absurda que fazia as pessoas se sentirem tontas”.

Inauguração da EF Mauá, quando alcançou a “assombrosa” velocidade de 36 km/h. Trecho do livro “A formação das estradas de ferro no Rio de Janeiro: o resgate da sua memória”, de Helio Suevo Rodriguez.

O surgimento das estradas de rodagem e dos caminhões, inicialmente a gasolina e posteriormente a diesel, também foi um fator que prejudicou muito as ferrovias: em comparação com as estradas de ferro, as encomendas chegavam mais rápido de caminhão e na porta de residências ou empresas. Mesmo que os trilhos fossem utilizados para o transporte de cargas e de passageiros em relação ao transporte rodoviário, a ineficiência do traçado causava muitos transtornos e atrasos, tornando o transporte por via rodoviária o meio preferencial, mesmo sendo logisticamente não compensador.

Caminhão de leite na década de 1930. Os trens eram utilizados para esse tipo de transporte em várias regiões, mas com o passar dos anos e a não modernização do sistema, as ferrovias passaram a ser substituídas pelos caminhões neste tipo de transporte, mesmo em grandes distâncias e em menor quantidade e capacidade que os trens. (Foto: Pinterest Old São Paulo)

 

Um exemplo pode ser dado a partir de uma matéria de jornal: com o asfaltamento da estrada ligando Angra dos Reis a Barra Mansa, o transporte de chapas para o estaleiro Verolme, então existente, passou de 6 horas de viagem de trem para 3 horas de viagem de caminhão.

Washington Luis (26/10/1869 ~ 04/08/1957), presidente do Brasil e 1926 a 1930.

Aos que acreditam em teoria da conspiração: o presidente Washington Luiz, apelidado de “Paulista de Macaé” por ter nascido no município fluminense, mas ter cumprido a maioria de sua carreira política em São Paulo, ao priorizar estradas de rodagem, em paralelo a isso, não desestimulou as ferrovias. Elas perderam competitividade pela sua lentidão. Embora as locomotivas a Diesel fossem mais velozes que as locomotivas a vapor os traçados das ferrovias em muitos casos eram péssimos, muito sinuosos e com muitos aclives elevados. Com isso, as locomotivas não conseguiam atingir as velocidades pretendidas.

VEJA TAMBÉM  Um resumo sobre as cremalheiras
Trecho entre Conselheiro Paulino e Além-Paraíba, da extinta Estrada de Ferro Cantagalo, extremamente sinuosa. – Imagem: traçado no Google Earth feito por Marcio Cardoso

 

Linha da Barra da Rede Mineira de Viação, entre Conservatória e a divisa com o estado de Minas Gerais. – Imagem: percurso feito no Google Earth por Marcio Cardoso

Durante a construção das ferrovias, vários obstáculos, mas também interesses, eram considerados. O relevo a ser vencido obrigava os trilhos a darem muitas voltas em torno das serras ou influenciavam a construção de túneis para vencer tais barreiras, o que também encareciam os projetos e a construção Apesar de encarecer poderia ser uma opção tornando-as mais modernas e competitivas, além de retificações possíveis em muitos trechos. E como o transporte de carga nos primórdios, e até hoje, eram o fator predominante a ser considerado para a construção de uma ferrovia, alguns fazendeiros ou proprietários de grandes áreas exigiam que as estradas de ferro passassem por dentro de seus territórios para serem atendidos pelas mesmas, o que acarretava desvios e traçados onerosos, prejudicando a eficiência do meio de transporte.

Transbordo de cargas de café no Porto de Santos, da Estrada de Ferro Santos — Jundiaí. (Fonte: Site “A Ferrovia Paulista”).

 

Transbordo de cargas de café no Porto de Santos, da Estrada de Ferro Santos — Jundiaí. (Fonte: Site “A Ferrovia Paulista”).

   

Com a falta de modernização e adequação, as ferrovias literalmente “perderam o trem” do progresso, ficando para trás, em relação ao transporte automotivo, tanto no transporte de cargas quanto no de passageiros. Um problema que até hoje não foi revertido.

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Autor

  • Mozart Rosa

    Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966, que testemunhou o desmonte da E.F. Cantagalo e diversas histórias da Ferrovia de Petrópolis. Se formou Engenheiro Mecânico pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral Trilhos do Rio no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de redator do site, assessor de contatos corporativos e diretor-técnico.

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