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✍️ Mozart Rosa
📅 06/05/2020
🕚 12h00
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Hoje iniciaremos uma série de textos de cunho eminentemente técnico explicando os prováveis motivos da queda do setor na totalidade, ao longo de anos. Tentaremos assim esclarecer diversos pontos que até hoje são debatidos, mas por vezes equivocadamente divulgados e defendidos, e assim demolir uma série de mitos.
Boa leitura a todos.


Parte 01: os custos de construção.

Inicialmente, os parâmetros comerciais e de construção de ferrovias nos foram legados por Mauá. Esse modelo de construção foi seguido ao longo de anos, sendo usado pela grande maioria das ferrovias construídas até o final da década de 40.

Obras de construção de ferrovia — Fonte: Brasiliana Fotográfica.

Entretanto, a partir daí começa a sofrer mudanças com o início da exportação de ferro e o surgimento dos trens de granel. Vamos entender: a atual concessionária MRS logística, que substituiu a RFFSA que por sua vez substituiu a EF Central do Brasil, transporta de carga o equivalente a mais de 30 Toneladas por eixo. A Estrada de Ferro Leopoldina não passava de 15 Toneladas por eixo. Isso implica em uso de trilhos com maior capacidade de carga, além de implicar também em maior quantidade de lastro e em maior compactação de solo para suportar tudo isso, o que aumentará o custo.

Placa em vagão de transporte de minério da MRS indicando vários dados sobre a capacidade e peso suportados. Foto: Daddo Moreira, 2014

 

Para vocês terem uma ideia, a MRS tem como padrão o uso de 1800 dormentes por quilômetro. Ferrovias de menor capacidade podem ter até 1400 dormentes por quilômetro. Portanto, o custo de construção de uma ferrovia como a da MRS para o transporte de granéis será muito maior que uma ferrovia que se disponha a transportar apenas carga geral ou transporte de passageiros.

⁣ Trecho do ramal de Angra (Mangaratiba) operado pela MRS. Foto: Daddo Moreira, 2014

 

Acontece que quando se fala em construção de ferrovias, se usa como parâmetro os custos de construção de uma ferrovia no padrão da MRS, que era o padrão da RFFSA e que era o padrão da EFCB. E esse custo é extremamente elevado. Para piorar, devemos lembrar que a EFCB/RFFSA, atual MRS, usa bitola de 1,60 m e ferrovias com bitola de 1,00 m podem fazer o mesmo a um custo de construção bem menor.
Apenas a título de curiosidade, uma ferrovia padrão MRS pode custar mais de R$ 1.000.000,00 por quilômetro. Em um padrão que chamaremos Leopoldina, pode custar em média R$ 400.000,00 por km. (Se considerarmos o km construído em solo sem aterros ou qualquer tipo de obra de arte).

VEJA TAMBÉM  Artigo n.º 1: o que realmente houve com as ferrovias no Brasil? (1)
Trecho da EF Leopoldina — Linha do Litoral. Imagem: Daddo Moreira, 2017

 

Atualmente, boa parte das pessoas, trabalhando no governo em órgãos de assessoramento para o setor, são egressos da RFFSA ou da própria MRS. Mas que fique claro: todo mérito à MRS, uma empresa competente e vitoriosa. Mas o mercado, com as informações adequadas sendo fornecidas, poderia incentivar grupos empresarias interessados em investir no setor. Acontece que ao balizar as informações construtivas da MRS com seus custos, se desestimula a entrada no setor de empresas que poderiam apenas transportar passageiros, carga viva ou carga geral.

Trem de carga geral na Argentina da Ferrocarril General Manuel Belgrano, operando em bitola de 1,00 m. Fonte: Wikipedia.

 

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Autor

  • Mozart Rosa

    Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966, que testemunhou o desmonte da E.F. Cantagalo e diversas histórias da Ferrovia de Petrópolis. Se formou Engenheiro Mecânico pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral Trilhos do Rio no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de redator do site, assessor de contatos corporativos e diretor-técnico.

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