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✍️ Daddo Moreira
📅 09/04/2020
🕚 21h59
📷 Capa: Evento realizado em 2016 na sede Trilhos do Rio em Piedade – Imagem: Daddo Moreira




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Durante a assembleia de fundação da Associação Ferroviária Trilhos do Rio — AFTR debatemos, dentre muitos outros assuntos além do próprio estatuto a ser aprovado, sobre onde poderíamos ter um local para nossas reuniões e debates presenciais. Algumas opções eram disponíveis, mas nenhuma delas nos atendia plenamente no sentido de ser algo particular, um local para administrarmos e nos reunirmos a qualquer dia e hora, além de ser uma oportunidade de visitantes conhecerem o nosso trabalho, e ser um ponto de encontro e de atrações à coletividade.

Você pode conferir como foi essa inesquecível assembleia de fundação da instituição neste link:

Trilhos do Rio: a formação e fundação

Coincidentemente, alguns dias antes da Assembleia Geral de fundação, o nosso secretário-geral Carlos Assis apresentou uma possível solução: por acaso, encontrou na rua a esposa de um dos antigos diretores da instituição Tattwa Potira Catu, uma instituição religiosa localizada no bairro de Piedade. Assis exercera várias funções nessa instituição, principalmente na parte de astronomia. O prédio possuía um amplo espaço equipado com lunetas e telescópio, além de vários outros equipamentos técnicos. E, como a instituição estava praticamente sem funcionar, os antigos diretores estavam sem saber o que fazer para não perder o prédio, fechado há bastante tempo. Então, foi sugerido que nós ocupássemos o local, em regime de comodato, para preservar o espaço e evitar a sua venda ou mesmo uma possível invasão. Assim, os trâmites foram sendo realizados, tudo foi acertado e começamos a trabalhar.

Fachada do prédio, em 2015

Rapidamente organizamos um mutirão de limpeza e organização no espaço: o primeiro pavimento (térreo) possui um grande salão onde eram realizados eventos e atividades religiosas, dois banheiros, uma sala administrativa, um quintal nos fundos com uma pequena residência de zelador, além de um hall de acesso com quadros de avisos, bebedouro e um pequeno depósito sob a escada de acesso à biblioteca. No segundo pavimento, existiam duas estantes com milhares de livros religiosos e espiritualistas, e na parte de trás uma sala do sacerdote convertida em oficina posteriormente. Nos fundos desse pavimento, mais duas salas técnicas, também convertidas em oficinas e espaço para restauração de peças de museu. No terceiro pavimento ficava uma grande sala aberta com cadeiras para cursos e palestras; outra sala menor de uso semelhante, mas fechada; o acesso ao terraço e à sala da cúpula do telescópio. No terraço, localizava-se a cúpula que, quando aberta, permitia a observação dos astros através de um considerável telescópio e algumas lunetas.

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Espaço durante as nossas primeiras visitas – Imagem: Daddo Moreira
Aspecto do primeiro pavimento, com a nossa primeira faxina sendo realizada – Imagem: Daddo Moreira
Banheiro após a limpeza: aspecto antigo mas com cara de novo – Imagem: Daddo Moreira

Tínhamos espaço de sobra e suficiente para ministrar cursos e palestras, receber visitantes, restaurar peças históricas, abrigar um museu, biblioteca, mapoteca, um espaço para games e simuladores ferroviários, manter uma sala de estudos e pesquisa, abrigar uma maquete ferroviária, muitas e muitas utilidades, podendo proporcionar várias atrações e contribuindo culturalmente ao proporcionar e disseminar informação, conhecimento, experiências e atividades à população da região gratuitamente.

Em uma manhã de junho de 2017, os preparativos para mais uma atividade – Imagem: Daddo Moreira

Uma das primeiras medidas a serem tomadas após ocuparmos, limparmos e arrumarmos o espaço foi receber a doação de uma maquete ferroviária de um dos nossos diretores e fundadores, o Edson Vander. Linda, com toda a ambientação, casinhas, estações, trilhos, faltando apenas reparar a parte elétrica, tarefa que o nosso querido e saudoso Luis Octávio executou juntamente com Carlos Assis. Infelizmente, durante o transporte, algumas peças voaram (!) no trajeto até a sede, mas nada que tirasse a sua beleza. Com todo o cuidado, ela foi transportada para as oficinas do andar superior, onde foi iniciada a restauração.

Com o passar do tempo, outras medidas e ajustes foram sendo realizados, para organizar e ocupar o espaço. Já tínhamos à disposição:

  • Mesas;
  • Expositores;
  • livros e revistas doados por colaboradores, diretores e associados.
  • peças históricas.
  • miniaturas de trens.
  • várias peças e objetos que ajudaram compondo o acervo da instituição.

Normalmente, as reuniões e encontros eram realizados aos sábados de tarde, mas também ocorreram raros encontros e visitas em domingos e excepcionalmente em dias de semana. Além de conversarmos e planejarmos atividades e ações de preservação históricas e ferroviárias, ajudávamos a manter e arrumar o espaço. Em 2016, recebemos por comodato material da Associação dos Engenheiros Ferroviários — AENFER, que estava guardado sem espaço nem previsão para exposição. Assis, com alguns colaboradores, restauraram todas as peças, as deixando praticamente como novas e as colocando em exposição no espaço da sede em seguida.

Fim de uma das reuniões realizadas no espaço – Imagem: Daddo Moreira

Entre 2015 e 2016 surgiu uma original ideia: Carlos Assis e seu amigo de longa data e também engenheiro, Celso Sakae, planejaram e construíram um veículo ferroviário na sede! Batizado como Ferreocar, o veículo usava energia elétrica a partir de baterias e pesava poucos quilos, o suficiente para ser transportado por poucas pessoas, de duas a no máximo quatro, sendo desse modo bastante versátil e com a possibilidade de ser utilizado para variados fins em ferrovias.

Concomitantemente a essa ideia exclusiva, começamos a planejar um evento a ser realizado na sede que premiasse personalidades e pessoas que lutavam pelos trilhos, seja na preservação, seja nas ações práticas. O primeiro premiado escolhido foi obviamente Luis Octávio da Silva Oliveira, fundador e presidente da nossa co-irmã Associação Fluminense de Preservação Ferroviária — AFPF. A festividade seria realizada em 2015, mas devido a uma cirurgia sofrida pelo presidente da AFTR decidimos adiar e a mesma foi realizada em junho de 2016. Foi um evento inesquecível onde registramos a presença de grande quantidade de membros, associados, diretores, visitantes e seus familiares, que tiveram a oportunidade de conhecer o espaço, confraternizarmos como uma família dos trilhos e passar momentos especiais naquela tarde única.

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Posteriormente, entretanto, as visitas e reuniões passaram a ser mais esporádicas. Algumas pessoas tinham compromissos e outras pessoas não compareciam, por motivos diversos. Novos visitantes não apareciam, mesmo com convites e divulgação. Começamos a realizar sessões de filmes com temática ferroviária, com o uso de um projetor que transformava o salão em uma sala de cinema. A pipoca era de graça! E apesar de algumas pessoas comparecerem às sessões, ainda não era o que esperávamos e poderia ser.

Sessão de cinema, com temática ferroviária – Imagem: Daddo Moreira

Passando o tempo, as visitas foram ficando cada vez mais escassas. Sem a presença física, o espaço foi perdendo a razão de existir. Um grande espaço que poderia ser aproveitado e mantido foi ficando sem sentido. Até que decidimos fechar, mantendo o local apenas para recebimento de correspondências, realização de poucas reuniões e como oficina para manutenção e aperfeiçoamento do Ferreocar.

Após um período, decidimos dar uma nova chance ao espaço, reorganizando todo o espaço… mas depois de algumas tentativas e iniciativas e poucos meses depois, a questão presencial se fez presente (desculpe o trocadilho) mais uma vez e fechamos em definitivo. O acervo felizmente teve um destino pertinente e merecido: foi encaminhado à prefeitura de Miguel Pereira, onde no início de 2020 foram inaugurados dois Memoriais Ferroviários com as peças que compunham e ornamentavam a nossa sede, incluindo o Ferreocar, que se encontra pronto e disponível para circular pelos trilhos do município. Em breve, uma matéria especial sobre esse veículo, aguardem!

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Autor

  • Daddo Moreira

    Formado em Arquivologia, pós-graduado em Engenharia Ferroviária, técnico em TI, produtor e editor multimídia, webmaster e webdesigner, pesquisador e historiador informal. Foi presidente e é o atual coordenador-geral Trilhos do Rio.

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