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✍️ Mozart Rosa, contribuição de Thales Veiga
📅 12/07/2020
🕚 12h00
📷 Construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (Biblioteca Nacional)




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O Brasil em determinado período limitava-se às cidades litorâneas e a povoados no interior. A ferrovia da época, mesmo com todos os seus defeitos, ajudou o Brasil a crescer. O desenvolvimento trazido pela ferrovia tornou o Brasil a quarta economia mundial, povoou o interior, criou e enriqueceu cidades. O uso da faixa de domínio das ferrovias possibilitou a instalação de postes telegráficos e a criação de serviços de comunicação entre as cidades. A ferrovia foi grande fator de integração nacional e não queremos desmerecê-la evidenciando, divulgando e esclarecendo alguns fatos.

Antigo poste telegráfico em Petrópolis Foto: Daddo Moreira, 2017

 

Quando Washington Luiz pronunciou a famosa frase “governar é abrir estradas” os defensores atuais das ferrovias alegam que ele fez isso em detrimento do trem. Esse pessoal estava e está completamente equivocado. Ao pronunciar essa frase, ele mostrou apenas qual aspecto priorizaria em seu governo e, tendo em vista o tamanho continental do Brasil, foi um aspecto bem correto. Ferrovia era e deve continuar sendo assunto da iniciativa privada, do empresariado, que deve ser incentivado a investir e a lucrar com o negócio ferroviário. Não totalmente obra e administração do Estado.

Lançamento em 1852 da Pedra Fundamental da EF Mauá, a primeira ferrovia do país, construída com capital da iniciativa privada.

 

A chegada ao Brasil dos ônibus e caminhões representou um golpe quase mortal para as ferrovias: esses veículos eram mais velozes, mais ágeis e cobravam mais barato que as ferrovias da época, cheias de problemas já citados antes aqui. Quando operavam sem concorrência esses problemas foram mascarados. Com o aparecimento da concorrência os fatores foram evidenciados.

Obras da nova rodovia de acesso a Sumidouro, enquanto à esquerda jaz a ferrovia prestes a ser desativada Foto: Acervo da Família Ponciano – Página Pró-memória Sumidouro

 

Quando na Europa começam a aparecer os automóveis e posteriormente os caminhões a Diesel, o empresariado de lá já tinha plena noção do que iria encarar, pois as estradas já faziam parte de seu cotidiano e a grande maioria das estradas europeias teve sua origem em estradas construídas pelos romanos para conquistar a Europa. Assim como grandes cidades europeias, tiveram suas origens em campos militares romanos. Londres é um exemplo, que se originou de Londiniun, campo montado por Roma para dar suporte à conquista daquela região.

Primeira locomotiva Diesel da LMS (London, Midland and Scottish Railway) que operou nas décadas de 1940, 1950 e 1960

 

No Brasil sem estradas de rodagem as ferrovias em seu início reinaram absolutas, mas com a abertura dessas estradas o empresariado das ferrovias ficou perdido sem entender sua função naquele mundo novo, preferindo sair do negócio optando por não as modernizar.

VEJA TAMBÉM  Uma ferrovia em Paraty?
Acidente em Anchieta em 1912. Nesta época, as ferrovias ainda eram o principal meio de transporte do país. Mesmo assim, acidentes por falhas de manutenção e conservação das linhas ocorriam com certa frequência. Foto: Revista Careta

 

Os primeiros construtores de ferrovias da Europa e em parte da Ásia quiseram prestar um serviço melhor, ser uma opção ao que existia na ocasião, e esse empresariado entendeu que iria concorrer com algo já existente, bem diferente do que aconteceu no Brasil. Aqui nunca se vislumbrou a possibilidade de existir uma concorrência.

Com a visão de fornecer um serviço eficiente e eficaz, as companhias ferroviárias da Europa empreenderam esforços sem limites para integrar seus territórios. Fonte: LOC

 

Existência da concorrência: uma lei básica do capitalismo. Essa visão nunca houve no Brasil, pois aqui se implantou um sistema para suprir uma demanda colossal, que não concorria com nada ou ninguém. Era um monopólio de um modal puro e simples, e sem possibilidade de concorrência, pois por lei era preciso uma distância de 30 km (dependendo do contrato, até mais) para uma ferrovia distar da outra, o que gerou na ocasião até uma briga judicial em São Paulo entre a Mogiana e a Paulista, por exemplo.

Oficinas da Companhia Mogiana, em Campinas–SP Fonte: Museu Casa de Portinari

 

Lembrem-se: não tínhamos estradas. Eram caminhos percorridos por burros ou cavalos. Durante muito tempo, para se chegar a São Paulo de forma rápida, ia-se de barco até Parati e dali se subia até Guaratinguetá pelo que hoje chamamos de Estrada Real. O Brasil se resumia apenas às grandes capitais, e a ferrovia na ocasião reinou absoluta, daí o descuido e a despreocupação com eficiência e outros fatores a serem considerados na construção. E lamentavelmente a turma não se atualizou. Nossa primeira rodovia, a Estrada “União Indústria”, foi inaugurada apenas em 1858.

Rout Union et Industrie Le Font du Retiro — Revert Henry Klumb (1860)

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Autor

  • Mozart Rosa

    Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966, que testemunhou o desmonte da E.F. Cantagalo e diversas histórias da Ferrovia de Petrópolis. Se formou Engenheiro Mecânico pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral Trilhos do Rio no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de redator do site, assessor de contatos corporativos e diretor-técnico.

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