✍️ Daddo Moreira
📅 04/04/2020
🕚 17h41
📷 Capa: Flickr: disponível em: https://www.flickr.com/photos/8264320@N04/516843475, visitado em 04 de abril de 2020
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O título desse artigo pode remeter a de um filme de terror, mas esse fato ocorreria na cidade do Rio de Janeiro e foi um projeto que poderia ter saído do papel.
Era o ano de 1884, o governo tentava chamar uma nova concorrência para que fossem implantados os serviços de bonde entre o Centro e as Praias da Saudade (extinta, ficaria onde hoje é o Iate Clube do Rio de Janeiro) e o bairro de Copacabana. Entretanto, empresas e projetos eram apresentados, e logo em seguida eram indeferidos ou caducavam. Por dois anos correram rumores de que havia sido pedida a concessão de uma linha ferroviária que partindo do final das linhas da Cia Jardim Botânico, em Botafogo, seguiria por Copacabana e se dirigiria para Angra dos Reis. Seria o futuro projeto adotado pela EF Sapucahy que posteriormente até deu início às obras, mas não teve prosseguimento, deixando alguns vestígios.
Local onde ficava a extinta Praia da Saudade
Essa iniciativa desagradou vários interessados na construção da linha de bonde para Copacabana, pois perderiam o privilégio e faixa de domínio. Se o governo negava todo e qualquer pedido e projeto relativo a este serviço, por que autorizaria a construção da ferrovia para Angra dos Reis passando por Copacabana? Como o governo se mostrava impassível, os interessados decidiram estudar e montar um novo projeto para afrontar a posição governamental: uma ferrovia a vapor, como a Botafogo — Angra dos Reis, que iria “além das montanhas da Gávea, na Freguezia de Jacarepaguá”, onde seria construído um grandioso cemitério para substituir o São João Batista, ficando este apenas como uma espécie de “cemitério-depósito”, proporcionando ao bairro de Botafogo “um importante melhoramento para o saneamento”, e de certo o governo acataria tal projeto.
Não demorou dez dias para o projeto ficar pronto, e no dia 22 de fevereiro de 1886 o engenheiro J. B. Uchôa Cavalcânti apresentou o seu estudo:
(…) partiria a via-férrea do cemitério de São João Batista, seguindo até a Praia de Copacabana; daí percorrendo o istmo que separa a lagôa Rodrigo de Freitas e o oceano e, contornando a montanha dos Dois Irmãos, seguiria pela encosta do morro da Bôa-Vista, atravessando, por meio de um túnel, a garganta da Serra da Gávea e, percorrendo os terrenos situados entre os montes Gávea e Quebra-Cangalha e o oceano, atravessaria êsses montes por meio de outro túnel, terminando no lugar denominado Pena, na Freguezia de Jacarepaguá.
Conforme o engenheiro responsável pelo projeto, a linha teria 26 quilômetros de extensão e custaria 776:000$000. João Ribeiro de Almeida, presidente da companhia Jardim Botânico, a principal interessada no prolongamento de suas linhas de Bonde até Copacabana e apoiadora desse mórbido projeto, estimou que de início a linha não daria lucro, mas seria compensado pelo desenvolvimento “daquelas áridas regiões”, depois de servidas por um transporte rápido e barato. Como fonte de renda imediata, poderia a companhia contar com o transporte de cadáveres entre os dois cemitérios servidos pela estrada de ferro. Além da construção da ferrovia e da nova necrópole, a empresa ficaria responsável pela construção de duas escolas públicas e de “uma capela para os ofícios divinos”. Seria assim ainda mais simpática a proposta a ser apresentada ao governo.
Entretanto, o Dr.Duque Estrada, diretor da companhia que apresentaria o projeto ao governo, analisou e aceitou a proposta e estudos, mas com restrições. A mudança do local do cemitério era bastante importante, pois contribuiria em diversos aspectos para o bairro de Botafogo. Mas não via necessidade da empresa construir uma via-férrea de 26 quilômetros, quando na metade do trajeto (ou seja, em São Conrado) havia terrenos apropriados para o novo cemitério. Assim, reduziria muito o custo de construção, não sendo necessário construir o túnel na garganta da Gávea. Em relação à construção das escolas e da capela, o diretor também foi contra, pois seria responsabilidade e despesa de caráter permanente, diferente da finalidade da empresa.
Assim, após reunião com o tesoureiro da companhia, o Comendador Malvino da Silva Reis, não foi adiante o projeto, decisão tomada e concordada também pelo Barão do Flamengo, Comendador João Nepomuceno de Sá e José Mendes de Oliveira Castro, os três membros do conselho-fiscal da companhia.
O que aconteceria se esse projeto tivesse seguido adiante, aprovado e executado? Comentem, deixe sua mensagem!
Fonte/referências: DUNLOP, C.J. Apontamentos para a História dos Bondes no Rio de Janeiro: Gráfica Laemmert, 1953, p.135–138).
COSTA, André. / MALTA, Augusto (foto em destaque)
Uma idéia assaz interessante. Contudo, a resistência impérvia do governo da época aos projetos sugere algumas hipóteses :
– Real desintreresse no objetivo declarado;
– Percurso pré-definido mas que por alguma razão de conveniência não cabia declarar como requisito;
– Expectativa da autoridade responsável em obter alguma vantagem não legalmente prevista;
– Ou a empreitada , debalde “aberta” a todos os interessados, mirava um determinado projeto (com caractrerísticas muito específicas) acerca do qual seus supostos autores não chegaram a um acordo ou não obtiveram os recursos necessários.