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✍️ Mozart Rosa
📅 03/09/2021
🕚 12h00
📷 Acervo Benício Guimarães




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Bem-vindos(as).

Com este artigo, esperamos encerrar nossa série de artigos numerados onde colocamos as mais importantes informações sobre o que aconteceu com o setor ferroviário.

A leitura específica dessa série de artigos, bem como de todos os outros artigos por nós já publicados, pode trazer luz para aqueles que tentam entender o que aconteceu com o setor no Brasil. Sem as lendas e as Teorias da Conspiração que comumente existem.

Agradecemos a visita e desejamos a todos uma boa leitura!

INTRODUÇÃO

Esse texto contém diversas informações retiradas do livro INTRODUÇÃO À HISTÓRIA FERROVIÁRIA DO BRASIL, de Ademar Benévolo, publicado em 1953. Livro que recomendamos a todos aqueles interessados em conhecer a história das ferrovias do Brasil, além de conhecerem um pouco de histórias do Brasil nunca mencionadas em outros livros.

Mostra, de forma crua, um retrato do que aconteceu com esse setor no período pós-Proclamação da República até a data em que o livro foi escrito, sem as fantasias normalmente ditas.

Um relato pujante, preciso e desconhecido, do período ignorado pela maioria dos que defendem a causa ferroviária.

Ferrovias no Brasil. Por que deu errado?

O erro mais comum cometido pela maior parte daqueles que amam as ferrovias e se propõem a falar sobre elas, é desconhecer que a ferrovia no Brasil teve seis períodos distintos de existência. Infelizmente, algumas pessoas focam todo tipo de comentário bom ou ruim no período compreendido entre 1957 e os dias atuais, período de existência da RFFSA e pós-concessões do sistema. Lamentavelmente, todos os paradigmas sobre o setor hoje acabam tendo por base o período pós- 1957, período da RFFSA. A impressão que temos é que antes disso nada existiu. E isso é péssimo, pois existe muita coisa importante a ser discutida e aprendida com os períodos pré-RFFSA.

Locomotiva da RFFSA em Fortaleza, ano não identificado.
Locomotiva da RFFSA em Fortaleza, ano não identificado. Fonte: Acervo Benício Guimarães / Trem de Dados.

Juntam tudo no mesmo saco, misturam informações, esquecem ou desconhecem os outros dois períodos existentes, onde o primeiro foi de seu surgimento, a partir de 1854 com a inauguração da Estrada de Ferro Mauá, ignoram a enorme participação do capital inglês, via empresas privadas na construção das ferrovias, até a Proclamação da República, ignoram o período até 1930, com o tabelamento dos fretes e depois de 1930 até 1959, período onde Getúlio Vargas vendo o potencial político das ferrovias, resolve institucionalizar práticas como a nomeação de correligionários para a direção das ferrovias em poder do estado, ferrovias essa que passaram para as mãos do estado por conta dos prejuízos, prejuízos esses causados pelo próprio estado que resolveu tabelar fretes.

VEJA TAMBÉM  A volta dos Trens Regionais de passageiros no Brasil: nossa proposta para o tema
Locomotiva G12 da RFFSA, local não identificado.
Locomotiva G12 da RFFSA, local não identificado. Fonte: Acervo Benício Guimarães / Trem de Dados.

Essa ignorância da história é compreensível, além de nossa história ser reescrita como mostramos no artigo 1, temos diversas pessoas egressas da RFFSA ainda vivas para falar de suas experiências, mas obviamente não temos mais ninguém ainda vivo para dar testemunhos sobre o que aconteceu no período antes 1930 e nem no período entre 1930 e 1959.

Ignoram que para chegar à criação da RFFSA, existiu antes, uma empresa chamada EFCB, Estrada de Ferro Central do Brasil, que por conta de inúmeras decisões equivocadas teve inúmeros problemas a partir da Proclamação da República e foram mascarados com a descoberta das províncias minerais em Minas Gerais no início do século XX, que possibilitou a EFCB fazer um belíssimo caixa que possibilitou a ela subsidiar todo nosso sistema ferroviário.

É como se alguém, ao falar da história da origem do cinema, por algum motivo falasse apenas do período de 1902 em diante, data dos primeiros filmes coloridos, e ignorasse por completo o período de 1895 até a virada do século XIX para o século XX, data de produção dos primeiros filmes em preto e branco.

Tudo que apresentamos desses períodos históricos é baseado em documentos e evidências, que a maioria não consulta, principalmente balanços da RFFSA, preferem acreditar nas lendas urbanas e nas Teorias da Conspiração.

As seis fases da ferrovia no Brasil

  • A Primeira foi de 1854 até 1889
  • A Segunda foi de 1889 até 1930.
  • A Terceira foi de 1930 até 1957.
  • A Quarta foi de 1957 até 1998.
  • A Quinta foi de 1998 até 2018.
  • A Sexta foi de 2018 até os dias atuais.

Mais uma vez, tentando esclarecer um pouco as coisas, vamos falar dessa história em ordem cronológica:

PERÍODO 1: DE SEU SURGIMENTO ATÉ 1889

A primeira ferrovia foi inaugurada no Brasil em 1854, a Estrada de Ferro Mauá, ligando a estação de Guia de Pacobaíba, em Magé, à atual localidade de Vila Inhomirim. Essa ferrovia só conseguiria subir a serra de Petrópolis três anos depois, com a invenção das cremalheiras, mas esse período de 1854 até 1930 assentou as bases do que herdamos hoje. Foi um período pujante, e o mais importante de tudo é que poucos focam ao falar disso, um período em que o empresariado teve importância fundamental, sendo responsável pela maioria das ferrovias implantadas.

Posto Registro, da EF Cantagalo, em 1907
Posto Registro, da EF Cantagalo, em 1907 Fonte: Biblioteca Nacional

Façam as contas: foram 35 anos de grandes realizações, grande parte do patrimônio ferroviário abandonado hoje, em péssimo estado de conservação e que as pessoas vivem postando fotos e cobrando providências, foi construído nessa época.

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PERÍODO 2: DE 1889 A 1930

DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA ATÉ GETÚLIO VARGAS

Aqui o desastre começa, diferente do que conta até hoje a história oficial, o Brasil era um país em franco desenvolvimento. Empresas como Hering, fabricante de roupas de malha, Hemmer fabricante de conservas comprada recentemente pela Heinz, são empresas centenárias, empresas criadas durante o Império.

Existia uma liberdade econômica muito maior do que a que existe atualmente. Empresários empreendedores eram pessoas admiradas, hoje são tratados como bandidos.

Mesmo no período republicano, tivemos empreendedores fazendo coisas incríveis. Aqui em nosso estado, tivemos Julius Arp, que transformou Nova Friburgo em uma potência econômica ao comprar e ampliar uma pequena hidroelétrica que passou a fornecer energia elétrica para toda a cidade e criou a Fábrica de Rendas Arp a primeira fábrica de roupa íntima feminina de nosso estado.

Diferente do que é falado inclusive por secretários de estado, a ferrovia que servia a Nova Friburgo a antiga E. F. Cantagalo, não foi extinta por falta de café na região, mas por incompetência dos gestores da RFFSA, essa ferrovia transportava toda a produção industrial de Nova Friburgo que não era pequena, inclusive calcinhas.

Inconformados com a constante menção existente nos livros didáticos de que o Brasil no período pré-Getúlio Vargas seria um país agrícola, iniciamos uma pesquisa e o que encontramos assustou. De onde os livros didáticos tiraram essas informações? Tínhamos um parque industrial em crescimento, e essa informação é omitida.

A instituição Trilhos do Rio pretende lançar um livro sobre isso, onde muitas informações omitidas virão à tona.

Fragmento do livro do Sr. Ademar Benevolo
Fragmento do livro do Sr. Ademar Benevolo

Até a Proclamação da República o Brasil tinha um crescimento econômico expressivo, várias indústrias têxteis foram inauguradas, uma das mais emblemáticas foi a antiga Companhia Têxtil Brasil Industrial em Paracambi inaugurada pelo Imperador D. Pedro II, que atualmente funciona como instituição de ensino.

Companhia Têxtil Brasil Industrial em Paracambi
Companhia Têxtil Brasil Industrial em Paracambi

A Proclamação da República foi um evento liderado por positivistas, começamos a ter uma intervenção maior do estado na economia e na vida do cidadão, isso se reflete nas ferrovias. O positivismo é uma teoria socialista, embora não assuma isso, infelizmente é um movimento pouco estudado e não deveria, pelas consequências funestas que causou ao Brasil.

Abaixo transcrição de um evento na câmara dos deputados da época.

Tem a palavra Paulo de Frontin: “Em 1896 ocorreu, porém, um caso interessante. Várias bancadas do norte na Câmara dos Deputados, nos últimos dias da sessão, pretenderam reduzir o frete do açúcar e como esta resolução não podia ser obtida sem o apoio da bancada mineira, esta aproveitou-se da ocasião para reclamá-la, também, para o café e assim foi votada a redução de 50% para os fretes do café e do açúcar, adicionando-se a estes quase todos os gêneros de maior tráfego, exceto as fazendas.” (Revista do Club de Engenharia — Rio de Janeiro — março de’ 1901 — pág. 86 — Anais do Congresso de Engenharia e Indústria;

Na ocasião, Paulo de Frontin, então diretor da nascente E.F.C.B. Estada de Ferro Central do Brasil, que substitui a Estrada de Ferro D. Pedro II não quis cumprir a lei, mas foi obrigado pelo então presidente da República.

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Abaixo cópia da página 25 do livro do Sr. Ademar Benevolo, que novamente mostra que a lucratividade das ferrovias era prejudicada por poderosos da época que não queriam diminuir seus lucros, e tudo faziam para economizar no frete, prejudicando as ferrovias.

Texto Descrição gerada automaticamente

Texto, Carta Descrição gerada automaticamente

Texto preto sobre fundo branco Descrição gerada automaticamente

Texto preto sobre fundo branco Descrição gerada automaticamente

Apresentamos aqui alguns fragmentos de textos do livro do Sr. Ademar Benevolo, que mostram a bagunça, que se instaurou com a Proclamação da República na economia brasileira e da intromissão do estado no setor ferroviário. Isso nunca é mencionado em lugar nenhum, só aqui.

Para concluir a análise desse período, publicaremos mais fragmentos do livro do Sr. Ademar Benevolo, especificamente da página 27, onde é mostrada uma série de obras inúteis feitas pelo governo ao longo dos anos, isso em um livro escrito em 1953, imaginemos o que aconteceu depois.

Lembrando que a E.F.C.B. foi nossa primeira estatal, razão pela qual o governo a usou para investir maciçamente no setor ferroviário, fazendo muitas obras, muitas desnecessarias.

Texto, Carta Descrição gerada automaticamente

Tela de computador com texto preto sobre fundo branco Descrição gerada automaticamente

Em 1910, Nilo Peçanha, então presidente da república, assina um decreto de número 8077, criando a Rede de Viação Fluminense, unindo várias ferrovias existentes em nosso estado e padronizando suas bitolas em métrica.

https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-8077-23-junho-1910-527856-publicacaooriginal-1-pe.html

Vamos encerrar a descrição desse período com mais um texto do Sr. Ademar Benevolo bem significativo, mostrando no que estava se transformando nossa economia.

Texto preto sobre fundo brancoDescrição gerada automaticamente
Fragmento da página 33 do livro do Sr. Ademar Benevolo

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Autor

  • Mozart Rosa

    Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966, que testemunhou o desmonte da E.F. Cantagalo e diversas histórias da Ferrovia de Petrópolis. Se formou Engenheiro Mecânico pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral Trilhos do Rio no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de redator do site, assessor de contatos corporativos e diretor-técnico.

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