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Ao iniciar este texto, falando pelo título, já se tem uma ideia de que as notícias são boas. Na verdade, o que está ocorrendo e ocorre há algumas décadas, é horrível, péssimo e inconsequente. Está intimamente ligado à falta de desenvolvimento e decadência do estado do Rio de Janeiro, e do país em geral, com algumas exceções. Infelizmente o que vem ocorrendo envolve escolhas equivocadas e irresponsáveis quando se trata de mobilidade pública e, indo além, das tradições, histórias e memórias regionais.




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Fica, antes da leitura deste texto, um conselho: parece alarmismo, e é mesmo, no sentido de que chamar a atenção pois algo precisa ser feito! Portanto, reflitam sobre estes parágrafos e analisem a pergunta que será feita ao final do texto.

Agradecemos a visita, e desejamos uma boa leitura a todos, além de nervos e mente fortes.

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Erradicação de ferrovias não é algo de agora, já ocorre há muitas décadas, por diversos motivos, não apenas no Brasil. Algo que influenciou muito neste sentido, aqui no país, foi a falta de planejamento a longo prazo na construção das estradas de ferro, pois na ocasião das primeiras ferrovias, e por incrível que pareça o Rio de Janeiro é o berço dos trilhos por possuir a primeira ferrovia do Brasil (moribunda, mas ainda existem seus vestígios), os interesses eram de acordo com as regiões por onde passavam, o que gerou desvios, mudanças de percurso e traçados ineficientes. Algo fatal para várias destas ferrovias, que perderam suas rentabilidades e funções no menor sinal de redução de carga transportada por onde os trilhos passavam. Ou seja, em um pensamento a longo prazo, as ferrovias teriam sido construídas pensando no futuro, na integração, no transporte rápido, na economia, no desenvolvimento do país. Mas não foi isso que ocorreu.

Contudo, na primeira metade do século XX, a chegada da indústria automobilística ajudou ainda mais a termos reduzidas as chances de termos transportes rápidos e eficientes sobre trilhos: ao invés do governo investir nas ferrovias – como se dedicou às rodovias – melhorando seus traçados, adquirindo material rodante moderno, impulsionando a indústria ferroviária nacional e gerando ainda mais desenvolvimento, não… nada disso foi feito: as rodovias se expandiram, e junto com elas milhões de veículos, poluição, acidentes de trânsito, congestionamentos, condições de trabalho desumanas (basta pensar em um motorista de caminhão transportando cargas de uma região para outra atravessando diversos estados, algo que poderia ser feito por ferrovia) e condições de chegar ao destino igualmente ruins.

Quantas pessoas você conhece que ficam horas presas em seus deslocamentos diários para chegar ao trabalho, local de estudo, ou residência?

Passaram-se os anos, as décadas, o século, o milênio… e os governantes continuam com a mentalidade do começo do século XX! Mas de forma ainda pior, pois a falta de planejamento, e mesmo de competência, trouxe muitos descalabros à população: a falta de transporte adequado, que levasse os habitantes de suas casas para o trabalho, ajudou na formação de favelas. E muitos muitos muitos outros problemas, ou seja, falta de condições básicas em geral, algo que os governantes parecem ter dificuldade, ou boa vontade, de compreender.

O que acontece hoje, e que nós da Trilhos do Rio não acreditaríamos que ocorresse mais, é a desativação de trechos, mas indo além, o desmantelamento do sistema ferroviário fluminense: por má administração e falta de competência foi perdida a oportunidade de se ter uma linha de metrô que atendesse pelo menos 1 milhão de pessoas, passando por Niterói e São Gonçalo. Sim, é a Linha 3, que no meio ferroviarista virou lenda urbana: em toda eleição as promessas se repetem, como um mantra dedicado a hipnotizar e iludir os eleitores e a população que continuam sendo enganados há anos e anos. Antes no trecho existiu uma linha ferroviária, o trecho da Linha do Litoral da Estrada de Ferro Leopoldina, que tinha seu ponto inicial em Niterói e alcançava o estado do Espírito Santo, com ligação para Magé e cidades da Baixada Fluminense, tendo ainda, décadas antes, trechos que alcançavam diversas localidades da região serrana do estado, além da Região dos Lagos.

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Pouco antes também foi perdida a ligação ferroviária de passageiros ligando Santa Cruz ao limite com Itaguaí, uma região hoje com indústrias e com grande adensamento populacional e conjuntos habitacionais, precariamente atendida por ônibus e quase isolada do restante da cidade. E há alguns anos as linhas em bitola métrica, que contornavam a Baía de Guanabara, foram criminosamente subtraídas, com seus trilhos furtados e direcionados para obras irregulares e construção de barricadas em entradas de comunidades de baixa renda.

O que mais poderia ocorrer? Seria possível piorar? Sim, e a passos largos, apesar do pouco alarde feito em torno do assunto.

Nas últimas décadas os únicos avanços em trilhos que tivemos foram alguns quilômetros de linhas de metrô, apesar do essencial e óbvio não ter sido feito ainda e o que foi construído em parte foi feito de forma que poderia ser ainda melhor. Além do Metrô, temos alguns pequenos trechos do Bonde de Santa Teresa sendo restaurados, e as linhas de VLT, um transporte moderno e que, apesar de todas as críticas e algumas questões ocasionais, atende bem à região do Centro da cidade. Mas parou por aí, e o que será dito a seguir pode ser aterrorizante, portanto não estamos fazemos nem apoiamos o sensacionalismo, mas fica a pergunta: o que aconteceria se os trens metropolitanos acabassem, atualmente operados pela Supervia?

 

O que está acontecendo com o sistema ferroviária urbano do Rio de Janeiro é a desconstrução da sua história, e a criação de precariedades diversas, para que a população não sinta a sua falta, caso venha a ficar inoperante ou mesmo inexistente. A melhor opção é o investimento nas Barcas, Metrô e Trens como transporte de massa, além da segurança pública e redução dos valores de impostos e tributos públicos, para o estado do Rio de Janeiro voltar a atrair investimentos gerais. – Frase baseada em uma declaração em um grupo de debates Trilhos do Rio

 

Não é, como falamos acima, sensacionalismo nem pessimismo: é ser realista! Nada está sendo feito para impedir a derrocada das linhas ferroviárias dos ramais Santa Cruz, Japeri, Belford Roxo e Saracuruna, além das extensões Paracambi, Vila Inhomirim e Guapimirim. Aliás, algo está ocorrendo sim, para cada vez mais extinguir os trens de passageiros da região metropolitana. Não cabe ficarmos nos argumentos, vamos aos exemplos, para ficar mais claro:

  • As extensões Vila Inhomirim e Guapimirim são, como o grupo musical, “heróis da resistência”, mas sem força nenhuma, apenas contratual: operadas pela Supervia, com equipamentos de 6 ou 7 décadas de idade, estes trechos tem – em parte – demanda reprimida e que poderia ser melhor atendida com a modernização da via e de seu material rodante, além do mobiliário (estações) e sinalização, visto que há 100 anos ou mais (dependendo do trecho) esta ainda é manual, com o maquinista descendo da locomotiva e tendo que alterar por conta própria a via para manobras. Aliás, se aqui fosse um país sério, estes serviços já teriam sido interditados até que fossem melhorados, mas cabe ao governo a sua parte contratual em investimentos e melhorias… e como se sabe, nem é preciso falar o que acontece, certo? Um mundo muito longe do ideal…
  • A extensão Paracambi funciona razoavelmente, mas em determinadas ocasiões tem seus horários reduzidos inexplicavelmente e, mais inexplicavelmente ainda, não tem uma escala horária que a conecte com os trens que chegam e partem de Japeri, onde começa o trecho. Ou seja: os passageiros que estão em Japeri dificilmente tem continuidade de sua viagem sem espera, muita espera. Já falamos que isso é inexplicável? Pois é…
  • O ramal Santa Cruz passa por regiões que sofrem devido à violência urbana, tendo costumeiramente o tráfego interrompido ou prejudicado por conflitos nos arredores. Além disso, algumas estações viraram pontos de venda de drogas e locais de ação de criminosos. Algumas estações não tem nem mesmo pagamento de tarifa, o que aumenta o prejuízo da operadora. E para complementar, o furto de cabos é constante, prejudicando as operações e expondo ao risco os passageiros transportados. Será que estes meliantes, que furtam cabos, tem consciência do mal que causam, diretamente e indiretamente, até mesmo à população e, possivelmente, aos seus vizinhos de moradia?
  • O serviço que atende Japeri, citado anteriormente ao se falar de sua extensão para Paracambi, transporta boa parte dos passageiros atendidos atualmente. E se pensarmos que este número já chegou a duas, três vezes mais do que hoje, é de se espantar… mas mesmo assim, passa pelos mesmos problemas citados anteriormente, sendo o furto de cabos o maior responsável por paralisações e atrasos na operação.
  • O trecho que vai até Saracuruna tem em seu percurso questões relativas à violência urbana – causando interrupções frequentes no tráfego – furtos de cabos, invasões de linha, desrespeito em Passagens em Nível e, pasmem, falta de competência governamental em completar a duplicação do trecho após Gramacho, o que ajudaria muito na questão de horários e frequência de viagens. O detalhe é que alguns metros de trilhos chegaram a ser instalados no leito, mas estas obras fazem parte de uma promessa tão antiga que virou mais uma das lendas urbanas dos trilhos, sendo que nem prometida é mais nas vésperas de eleições.
  • Agora a questão mais problemática é a do ramal Belford Roxo: passando por diversas comunidades, sofrendo com a violência do entorno, uma grande evasão de renda, furtos de cabos, depredação de equipamentos, horários esparsos e diversos outros problemas, este serviço sobrevive não sabemos nem como. A Supervia se esforça em manter o trecho operando, mas os problemas são diários e ocorrem várias vezes por dia. Vejam um exemplo ocorrido hoje, no mesmo dia em que este texto está sendo escrito:

Homens armados invadem linha e roubam cabos causando o fechamento de 9 estações

A empresa está entregando os pontos e, dentro de algumas semanas, passará a responsabilidade da operação e a transição ao Governo do Estado. Contudo, vamos analisar a situação como um todo, sem defesa de uma parte ou outra, de forma fria e direta.

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Tomemos como exemplo o sistema BRT TransBrasil. Já notaram que, à exceção de Deodoro, não há integração com trilhos, ou seja, com o verdadeiro transporte de massa. Não há estações de integração com o trem ou com o metrô, o que, na melhor das hipóteses, poderia ser interpretado como incompetência, mas que caberia ser interpretado como má intenção mesmo. Poderia ser citada uma sabotagem ou concorrência predatória? Sim, ok. Mas… vamos fingir que tenha sido coincidência.

Outra questão é a escalada da violência na região metropolitana, não só no Rio de Janeiro como também em outras cidades e estados, mas nos atenhamos à nossa região: aparentemente a maior preocupação atual das forças de segurança é a presença de malfeitores em áreas da justiça e da política, infiltrados… mas há alguns anos já se fala isso, e algo está sendo feito para impedir? A questão é agir na raiz dos problemas, mas em todas as áreas de abrangência as ações são apenas paliativas, e o país está fadado a ter uma guerra civil mais deflagrada do que atualmente, onde a população será a vítima principal e quem puder, como já ocorre, andará por aí de carro blindado, alheio ao que ocorre aos demais. Uma lástima.

Agora, voltando a falar de ferrovia, e tentando frear as dezenas de motivos que justificariam o que está sendo comentado aqui, que os trens de passageiros poderão ser extintos, deixemos uma constatação e uma pergunta: o Governo do Estado assumirá a operação dos trens em breve, mas não possui corpo técnico para isso. E nem deveria ser uma atribuição sua, a bem da verdade. Mas ok, pois bem: está previsto um investimento de milhões e que inclui até mesmo uma licitação para murar as faixas de domínio dos trechos ferroviários, neste período de transição.

E a pergunta de, literalmente, milhões é a seguinte:

Será que alguma empresa, operadora, concessionária, multinacional, ou seja lá quem ou o que seja, vai se interessar em operar o sistema e investir em sua melhoria, já que nem isso – que é atribuição do governo assim como todos os outros problemas citados anteriormente e que englobam a segurança pública – é feito pelo mesmo?

Reflitamos e oremos.

 

Texto escrito em 17 de dezembro de 2024 às 18h54
Última atualização em 17 de dezembro de 2024 às 18h54
Imagem de capa: Bing Creator Imagem (IA)

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  • O Departamento de Pesquisas e Projetos Trilhos do Rio surgiu como um grupo de amigos, profissionais, entusiastas e pesquisadores ferroviários que organiza, desde o ano de 2009, eventos, atividades e pesquisas, tanto documentais quanto em campo, sobre a história e patrimônio ferroviário do estado do Rio de Janeiro, com o objetivo de resgatar, preservar e divulgar a história e memória dos transportes sobre trilhos fluminenses. Entre os anos de 2014 e 2021 fomos formalizados como uma ONG, a Associação Ferroviária Trilhos do Rio, e desde 2024 fazemos parte, como um departamento, da Associação Ferroviária Melhoramentos do Brasil

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