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Texto publicado originalmente em 13 de março de 2020*




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O estado do Rio de Janeiro é o berço das ferrovias brasileiras! Aqui foi construída a primeira ferrovia do país, e por trilhos de diversas companhias se alcançava quase todas as localidades do estado e outras capitais do país, como São Paulo–SP, Belo Horizonte–MG e Vitória–ES, entre outras. Milhares e milhares de quilômetros de ferrovias, servindo à população, escoando a produção do interior para os portos do litoral…

Trecho da Linha do Litoral da EF Leopoldina, próximo à Venda das Pedras.

Infelizmente, este texto não se aplica ao tempo atual. O estado do Rio de Janeiro, de berço das ferrovias, passou a ser o túmulo das ferrovias. Depois da desativação inconsequente, irresponsável e insensata de milhares de quilômetros através da RFFSA e sua comissão de erradicação de ramais antieconômicos, erradicação esta que durou décadas (de 1950 a 1980), mesmo após a extinção da Rede, o extermínio de trilhos continua.

Pontilhão ferroviário e mato por todos os lados. Linha do Litoral da EF Leopoldina.

Além das linhas e trilhos, serviços ferroviários de passageiros como os trens ligando Niterói a Visconde de Itaboraí, o trem Barrinha que ligava Japeri a Barra do Piraí, o Vera Cruz (Rio de Janeiro x Belo Horizonte), o Santa Cruz (Rio de Janeiro x São Paulo), o Cacique (Rio de Janeiro x Campos dos Goytacazes x Vitória) e tantos outros, foram sistematicamente sendo desativados através da costumeira prática de torná-los inviáveis: sem manutenção, sem modernização, sem investimento, o serviço impossibilita-se de funcionar, sem segurança, sem pontualidade, sem condições. Neste meio, quase o bonde de Santa Teresa entra também, após sofrer um acidente grave e ter o funcionamento interrompido. Devido à pressão popular, o sistema voltou e ainda funciona parcialmente.

Parece mentira, por aqui já passaram trens ligando o Rio de Janeiro à região Norte Fluminense e ao estado do Espírito Santo. Aliás, esta ERA a única ligação ferroviária entre estas regiões do estado…

Sem um trem rodando pelas ferrovias, tanto trens de cargas como de passageiros, as vias acabam sendo pouco a pouco massacradas, invadidas, tomadas por mato e árvores, ou absurdamente tendo os trilhos e dormentes (e até a brita!) roubados. Os membros da equipe Trilhos do Rio já presenciaram muitas coisas tristes, absurdas, desoladoras… mas a cada caminhada, a cada quilômetro de linha explorado, a situação vai ficando cada vez pior.

Em um pequeno vale, o leito ferroviário foi transformado em depósito de lixo.

Dia 10 de julho de 2016: enquanto muitos assistiam à final da Eurocopa ou a qualquer outra atração pela televisão, um dos membros Trilhos do Rio percorreu sozinho o trecho da Linha do Litoral da antiga Estrada de Ferro Leopoldina e nos trouxe um verdadeiro dossiê da situação calamitosa, trágica, triste e chocante desta importante ferrovia que sucumbe a passos largos. Após chuvas fortes que arrastaram um pontilhão no bairro Engenho Velho, em Itaboraí, o trecho entre Vendas das Pedras e Visconde de Itaboraí ficou isolado. Se tem notícia apenas da circulação de veículos ferroviários (autos de linha) no trecho após Tanguá em direção ao norte Fluminense. De Niterói a São Gonçalo, a linha foi erradicada, tendo os trilhos removidos pelo próprio governo. De São Gonçalo a Visconde de Itaboraí, diversos trechos foram removidos. Trem, Auto de Linha, Velocípede, nada circula no trecho prometido para receber a lendária Linha 3 do Metrô. Em Visconde de Itaboraí, entroncamento que recebia também a linha da Ligação vinda de Saracuruna e que levou vários anos para ser construída em terreno pantanoso e com diversas e verdadeiras obras de arte da engenharia brasileira, também não há trilhos em boa parte do percurso já há algum tempo. Ou seja: não existe mais a possibilidade de se ligar o Leste e o Oeste do estado do Rio de Janeiro por trilhos. Mas isso ainda não é tudo… a situação está piorando… a Leopoldina está agonizando. Preparem-se, tomem um calmante e vejam as fotos abaixo:

VEJA TAMBÉM  Um resumo sobre as cremalheiras
A estação de Vendas das Pedras, original da ferrovia. Tornou-se moradia e paulatinamente vai sendo descaracterizada, apesar de mantida pelos moradores, ex-trabalhadores da RFFSA

Obra irregular afeta a estabilidade da linha.

Em diversos trechos, como este, os trilhos foram cortados e subtraídos.

 

Em outros trechos, as habitações estão muito próximas da linha.

Trecho sem trilhos e tomado pela mata.

Mais um trecho sem trilhos.

Chegando a Porto das Caixas. O descampado ao fundo era o leito da EF Cantagalo. Em primeiro plano, a linha do Litoral da EF Leopoldina, tendo o mesmo destino da outra ferrovia…
Casa de turma e antiga caixa d’água da ferrovia em Porto das Caixas, próximas de onde era a estação. Em 2011, caminhamos deste ponto até Alcântara, e a situação era esta abaixo…

 

Porto das Caixas em 2011.

 

Cruzando a primeira PN entre Porto das Caixas e Visconde de Itaboraí.

A situação não muda. A destruição se repete.

 

Sem trilhos, sem linha, mas com invasões e cercas bloqueando a propriedade da União.

A estação de Visconde de Itaboraí. Mais abandonada do que nunca…

E, além de abandonada, invadida!

 

Trecho percorrido hoje: a linha em amarelo é o percurso total. Os trechos em vermelho são onde não há mais trilhos. – Imagem: Arte produzida com imagens de satélite no Google Earth

Infelizmente, esta é a verdade. Estão dizimando nossas ferrovias. Cabe  mostrarmos a dura realidade, ser fortes e buscar medidas a serem tomadas para que isso se reverta. Para muitos, estamos dando murros em ponta de faca. Ok, um dia a faca quebra…

Queremos agradecer imensamente ao nosso amigo Cleiton Pieruccini pela coragem, disposição e gentileza em fornecer as imagens que compõe esta publicação. Fica o nosso “muito obrigado” pelos excelentes registros e pesquisa em campo.

Mas, infelizmente, a matéria não acaba por aqui. Poucos meses após os registros feitos, a estação Visconde de Itaboraí foi depredada, destruída. Um verdadeiro soco no estômago, difícil de acreditar. Comparem abaixo um antes e depois… triste. 

 

 

Texto publicado em 13 de março de 2020 às 18h12
Última atualização e revisão em 13 de deembro de 2024 às 18h16
Imagem de capa: Cleiton Pieruccini (2016)

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Autor

  • Daddo Moreira

    Formado em Arquivologia, pós-graduado em Engenharia Ferroviária, técnico em TI, produtor e editor multimídia, webmaster e webdesigner, pesquisador e historiador informal. Foi presidente e é o atual coordenador-geral Trilhos do Rio.

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