✍️ Redação Trilhos do Rio
📅 26/05/2025
🕚 20h43
📷 Jornal O Globo
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A aproximadamente 50 metros abaixo do nível da rua, dentro de um túnel de serviço que já está finalizado, permanecem armazenados, há uma década, trilhos e dormentes destinados à linha que ligará Gávea a São Conrado. Estes materiais estão ali desde a interrupção das obras da Linha 4 (Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, até Jardim Oceânico, na Barra), suspensas sob suspeitas de superfaturamento. No interior do túnel, destaca-se a imagem de Santa Bárbara, considerada a padroeira de mineiros e trabalhadores de túneis. Ao redor, duas galerias — cada uma com 1,5 quilômetro — também aguardam, quase concluídas, a escavação dos 60 metros finais que permitirão a conexão com a futura Estação Gávea.
Desde o dia 10 de abril, operários e engenheiros iniciaram a mobilização para retomar as atividades tanto no canteiro — instalado no antigo estacionamento da PUC-Rio, onde ficará a estação — quanto no interior do complexo subterrâneo. Isso só se tornou possível após a assinatura do novo contrato de obras e de dois termos adicionais, que colocaram um ponto final no longo impasse jurídico envolvendo a Linha 4. Esse acordo começou a ser costurado no ano anterior, por meio de articulações entre o Tribunal de Contas do Estado (TCE), Ministério Público, governo estadual, a concessionária MetrôRio e o consórcio responsável pela construção. Contudo, é a partir de junho que a movimentação no local, e também nas redondezas, deve se intensificar significativamente, com o início dos serviços preliminares que antecedem as obras civis de maior porte.
Com a fase de escavações praticamente concluída, os próximos passos envolvem a construção das estruturas, acabamentos, instalação de trilhos, montagem dos sistemas operacionais e ainda a urbanização da área externa, que contará com uma praça no entorno do edifício da estação — que terá apenas um pavimento. Os projetos arquitetônicos, tanto internos quanto externos, estão em fase de desenvolvimento. Já se sabe, entretanto, que a Estação Gávea será a mais profunda de todo o sistema metroviário do Rio, atingindo 52 metros de profundidade. Para atender essa necessidade, serão instalados dois elevadores de alta velocidade, cada um com capacidade para transportar até 30 pessoas, ligando a superfície à plataforma de embarque e desembarque.
A expectativa pela retomada das obras é alta. O secretário estadual de Transportes, Washington Reis, tem insistido na aceleração do cronograma. Na semana passada, ele acompanhou uma equipe do jornal O Globo em uma visita às instalações subterrâneas e ao canteiro de obras, junto ao presidente do MetrôRio, Guilherme Ramalho, e a uma equipe de técnicos.
— Estou muito otimista e quero ver o trem circulando entre Gávea e São Conrado até o final de 2026 — afirmou Reis. — Obra é questão de dinheiro, e temos os recursos garantidos. O que era mais difícil, que são as escavações, já está quase todo pronto. Daqui para frente, o andamento será mais ágil.
Pelo contrato, o prazo total de execução é de 39 meses, o que projeta a conclusão oficial das obras para o segundo semestre de 2028.
— Esta obra simboliza a retomada dos investimentos no metrô do Rio — destacou Guilherme Ramalho. — Contamos com uma equipe extremamente dedicada para garantir que tudo aconteça no menor tempo possível. A comunidade está muito ansiosa por essa conclusão. É uma felicidade enorme podermos expandir novamente o metrô, pois o Rio tem uma demanda muito grande por transporte de alta capacidade. Existem muitas regiões da cidade que merecem receber essa infraestrutura.
O orçamento total da obra gira em torno de R$ 697 milhões, sendo R$ 600 milhões provenientes da concessionária MetrôRio e os R$ 97 milhões restantes aportados pelo governo do estado. Como contrapartida desse investimento, a MetrôRio, que já operava a Linha 4, passou a incorporar também a concessão das Linhas 1 e 2, com o prazo de exploração prorrogado até 2048.
O acordo firmado também trouxe mudanças no consórcio responsável pela obra. O antigo CRB — formado pelas empresas Odebrecht, Carioca Engenharia e Queiroz Galvão — perdeu os direitos de construção e operação da Linha 4. No lugar, foi criado o consórcio CCG, composto atualmente pela Odebrecht e pela Carioca Engenharia. A expectativa é que, no pico da execução, após a fase de detonações, aproximadamente 1.200 trabalhadores estejam diretamente envolvidos na obra. A Secretaria Estadual de Transportes, no entanto, estima que, somando empregos diretos e indiretos, esse número possa chegar a 2.500 pessoas.
No que diz respeito aos detalhes operacionais, tanto o construtor quanto a concessionária explicam que, por ora, o poço Sul servirá exclusivamente para situações de emergência. Este acesso contará com escadas, iluminação adequada e paredes de concreto reforçado para evitar infiltrações. Inicialmente, essa galeria havia sido projetada para uma futura expansão da Linha 4, que incluiria mais uma estação.
A logística para retirada da água acumulada e dos resíduos de rocha já está definida. Nos dois poços existentes, estão armazenados cerca de 60 milhões de litros de água, que serão escoados por uma tubulação a ser instalada durante a madrugada, para minimizar os impactos no trânsito. Essa tubulação passará sob a Avenida Padre Leonel Franca e conduzirá a água até um córrego afluente do Rio Rainha, que deságua no canal da Avenida Visconde de Albuquerque, seguindo seu curso até o mar. Já as cerca de 140 mil toneladas de rochas que precisam ser removidas ao longo de 11 meses serão transportadas por caminhões que operarão dentro do túnel de serviço. O destino final desse material ainda está sendo definido.
Os moradores da região acompanham com grande expectativa o desenrolar dos acontecimentos. René Hasenclever, presidente da Associação de Moradores e Amigos da Gávea (Amagávea), participou recentemente de uma reunião na qual foi apresentado o cronograma das intervenções e já convocou os vizinhos para um encontro na próxima terça-feira, às 19h, a fim de compartilhar as informações.
— Essa promessa do metrô na Gávea vem desde os anos 1980. A ansiedade é enorme. Pelo amor de Deus, que nada atrapalhe nem atrase a retirada dessa água — desabafa Hasenclever, referindo-se à drenagem dos dois poços.
O líder comunitário lembra ainda que, nesta etapa, o projeto contempla apenas a ligação entre Gávea e São Conrado, um trajeto de 1,5 quilômetro, operado por algumas composições. Não haverá, nesse primeiro momento, conexão direta da Gávea com a Linha 1. Isso significa que os passageiros precisarão desembarcar em São Conrado e trocar de trem caso estejam seguindo para estações como General Osório ou Siqueira Campos. Isso ocorre porque o trecho de 1,2 quilômetro que faria a ligação até a Estação Leblon não foi executado. A máquina de escavação, conhecida como “tatuzão”, permanece inoperante, estacionada sob uma rua do Alto Leblon. Da mesma forma, quem desejar seguir viagem até a Barra precisará fazer baldeação em São Conrado, utilizando outro trem da Linha 4.
— O momento agora é de olhar para frente e ter pensamento positivo. As críticas podem ficar para depois. O ideal é que, futuramente, possamos discutir um metrô mais abrangente, que avance até o Leblon, passe pelo Jardim Botânico e atravesse o Maciço da Tijuca em direção à Estação Uruguai — projeta Hasenclever.
Quem também demonstra grande interesse no avanço das obras é Luiz Fernando Martha, vice-reitor de Infraestrutura da PUC e engenheiro civil.
— O que mais queremos agora é ver essa obra concluída, e estamos colaborando com tudo que estiver ao nosso alcance. Foram dez anos de prejuízos para nós. Mas não foi um problema só da PUC, e sim da cidade inteira. O Rio precisa de uma malha metroviária robusta. Minha esperança é que essa estação, que por enquanto é apenas um ponto intermediário, seja o começo da verdadeira expansão da Linha 4. Que ela chegue à Barra, passe por São Conrado, Gávea, Jardim Botânico, Humaitá, Botafogo, Laranjeiras e vá até a Carioca. E, quem sabe, chegue até o Recreio. Fomos vítimas desse atraso, mas o mais importante agora é que a cidade avance. O metrô é o transporte mais eficiente que existe. O destravamento desse processo é, sem dúvida, a melhor notícia. Mesmo que a solução adotada neste momento não seja a ideal, temos esperança de que, na sequência, a expansão continue.
Ao ser questionado sobre os próximos passos para além do trecho atual, o secretário Washington Reis evita prometer a ampliação da Linha 4 rumo a Botafogo ou Tijuca neste momento. Ele afirma que o governo estadual contratou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para elaborar a modelagem econômica e operacional de toda a expansão do metrô, o que inclui não só a Linha 4, como também os projetos da Linha 3 (Praça Quinze-Itaboraí) e a importante ligação Estácio-Praça Quinze — considerada fundamental para aliviar a sobrecarga da Linha 2 — além do prolongamento Barra-Recreio. Segundo ele, a intenção é lançar a licitação da Linha 3 ainda este ano. As demais expansões estão vinculadas à renovação do contrato com a MetrôRio e serão tratadas diretamente com a concessionária. Washington Reis também fez questão de cobrar mais investimentos do governo federal no transporte coletivo da cidade:
— O governo federal tem responsabilidade direta em resolver esse gargalo. Afinal, fomos muito penalizados. Perdemos o status de capital, perdemos inúmeros direitos. Levaram tudo para Brasília e esvaziaram o Rio de Janeiro — concluiu.
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