✍️ Mozart Rosa
📅 15/05/2020
🕚 12h00
📷 Capa: Internet
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Dando continuidade a uma série de textos de cunho eminentemente técnico, iremos explicar os prováveis motivos da queda do setor na totalidade, ao longo de anos. Tentaremos assim esclarecer diversos pontos que até hoje são debatidos, mas por vezes equivocadamente divulgados e defendidos, e assim demolir uma série de mitos.
Boa leitura a todos.
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As Bitolas
Bitola é um termo mais comumente usado no meio ferroviário para designar a distância entre os trilhos de uma ferrovia. Inicialmente, a pioneira Estrada de Ferro construída por Mauá usava bitola Ibérica, posteriormente Indiana (1,676 m), mas hoje é uma bitola praticamente extinta, caiu em desuso.

Posteriormente Cristiano Otoni, ao construir a Estrada de Ferro Dom Pedro II até Barra do Piraí, optou pela Bitola Irlandesa (1,60 m), e com o passar dos anos, após varias idas e vindas e adoção de várias bitolas (0,76 m / 0,60 m / 1,10 m dentre outras), se convencionou para o restante do Brasil a bitola métrica (1,00 m). Inicialmente isso teve como motivo a oferta de locomotivas novas e usadas disponíveis no mercado.
Além disso, nossas ferrovias começaram a ser construídas pouco tempo depois de iniciadas as ferrovias em si, mas era tudo ainda embrionário, tudo feito na base da tentativa e erro e muitos erros foram cometidos. Alguns desses erros foram consertados e outros não.

Um desses erros perpetuados que gerou uma lenda foi o de que a bitola de 1,60 m era “melhor” que a de 1,00 m, o que é uma das maiores bobagens técnicas já faladas, onde ninguém define com exatidão o que se entende ou se explica como “melhor”. A bitola de 1,00 m é extremamente adequada quando se pensa em qualquer projeto para Minas Gerais, por exemplo, por ser um dos estados mais montanhosos do Brasil e a bitola de 1,00 m, com curtos raios de curvatura, permite contornar facilmente morros que com a bitola de 1,60 m não seriam possíveis ou seriam mais difíceis de serem transpostos. E de fora do Brasil podemos citar um bom exemplo dessa versatilidade: na África do Sul e em países limítrofes funciona uma das maiores ferrovias de minério do mundo, em bitola métrica (na verdade, 1,067 m, similar a nossa de 1,00 m)

Em um decreto de 1965, foi estipulado que todas as ferrovias abaixo de Brasília fossem construídas a partir de então em bitola 1,600 m, o que atrapalhou e condenou as ferrovias em bitola métrica do país. Se a RFFSA, como já mostrado, foi um desastre empresarial, vendo mais perto a coisa só piora: ela patrocinou um projeto que foi um dos piores e mais caros projetos de engenharia da história do Brasil: a Ferrovia do Aço, que até hoje não está pronta como previsto. Como veem, tudo na RFFSA era superlativo, pois com o dinheiro gasto ali seria possível reformar a antiga EFOM — Estrada de Ferro Oeste de Minas pelo menos 4 vezes para carregar o mesmo que a MRS carrega pela ferrovia do aço.

A enorme quantidade de túneis perfurados para atravessar os morros de Minas Gerais (mais de 100 túneis, incluindo o maior túnel do Brasil com mais de 8 km de extensão), e as demais obras de arte, só quem entende realmente de engenharia pode compreender o que aconteceu ali e o quanto custou. Um absurdo total.
Vídeo de um trem passando pelo “Tunelão” com mais de 8 quilômetros de extensão
(não recomendável para pessoas com claustrofobia).
Fonte: Canal Memória Ferroviária.
A reforma da EFOM, proposta defendida por alguns na época, foi atropelada. Se feita, não teria ajudado a quebrar o Brasil no Governo Figueiredo.
Portanto, quando ouvir alguém defendendo bitolas de 1,60 m, pense em todo o exposto acima. Esse alguém possivelmente pouco ou nada sabe sobre ferrovias e todas as nuances envolvidas.
Por qual motivo não se consegue ver os nomes dos trabalhadores, braços pioneiros que fizeram essa estrada. Tive notícias que muitos europeus ajudaram a construí-la, como os Berg, e outros como Gastão Guimarães Antunes que foi até candidato à presidência da República?
Interessante questionamento.