✍️ Daddo Moreira
📅 01/05/2020
🕚 21h41
📷 Capa: Trem da Leopoldina na estação São Francisco Xavier em 1908, da E. F. do Norte. Imagem do Museu da Imagem e do Som, cessão Adenilson M. Sousa
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Durante as pesquisas empreendidas pela equipe da AF Trilhos do Rio, muitas vezes nos deparamos com mistérios aparentemente indecifráveis e simultaneamente instigantes. Outras vezes, a pesquisa tem um foco, mas acabamos descobrindo outra coisa que nada tinha a ver e acaba por demandar uma pesquisa sobre essa nova “descoberta”. Um desses casos é em relação a uma parada ou estação ferroviária que teria existido entre as atuais estações Brás de Pina e Cordovil.
Em 2012 estávamos pesquisando sobre a linha original da Estrada de Ferro do Norte, posteriormente EF Leopoldina, onde atualmente e parcialmente a Supervia opera os trens do ramal Gramacho/Saracuruna. Esta linha primitivamente passava por onde hoje é a Av.Governador Leonel de Moura Brizola (antiga Presidente Kennedy) entre as estações de Gramacho e Campos Elíseos, passando pelos bairros do Lote XV, Pantanal, São Bento e Pilar (esses três últimos contavam com paradas ferroviárias próprias, inclusive).
Em 1911 ou 1912, a linha foi retificada e não passou mais por esses locais, sendo erradicada e em seu leito construída a Estrada Rio-Petrópolis (não confundir com a atual rodovia Washington Luís — BR-040). Mas eis que durante as pesquisas sobre o trecho encontramos essa tabela de horários publicada na Revista “O Cicerone” no ano de 1909:
Vejam que além da estação Pilar, que era o foco da nossa pesquisa naquele momento, aparece uma parada/estação Km 10 na tabela, inédita para nós. Desvendado parte do mistério anterior, procuramos pesquisar sobre esse intrigante registro e encontramos algumas informações interessantes através de pesquisas no acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Segue abaixo o meu relato no fórum de debates Trilhos do Rio em 2012:
“Quando fui ao AGCRJ vi uma imagem aérea da região de Brás de Pina, Cordovil, Vila da Penha e arredores que me intrigou um bocado. O motivo: uma casinha muito semelhante a uma estação e com acesso aparentemente apenas pelos trilhos!
Pois bem, como fiquei encucado com esta imagem, a encomendei também, com os outros 10 arquivos com imagens aéreas de outras regiões.”
“Apontei com a seta vermelha a Linha Circular da Penha/Penha Circular; com a seta azul uma composição da EF Leopoldina com aproximadamente 10 ou 11 carros (aliás, a Leopoldina utilizava composições compridíssimas, já vi formações com 28 ou 30 carros!); e com a seta amarela a estação Penha Circular, com duas coberturas, uma em cada plataforma. Infelizmente, a resolução não é das melhores, que possibilitasse visualizar mais detalhes.”
“Marquei acima com a seta vermelha a estação de Brás de Pina; com a seta azul outra composição com uns 16 ou 17 carros; e com a seta amarela a casinha suspeita, com acesso aparentemente apenas pelos trilhos da ferrovia. Não parece mesmo uma estação, parada ferroviária?
Quando vi a imagem aérea em casa, fiquei pensando… eu havia visto uns 3 ou 4 documentos antigos falando sobre uma estação da EF do Norte chamada “Kilometro 10” ou simplesmente “Km10”. Eu sempre pensei que essa estação fosse um nome antigo ou primitivo de alguma das estações entre Penha e Cordovil, no caso poderia ser Penha Circular ou Brás de Pina. Mas quando eu vi a imagem aérea, me surgiu uma suspeita…
Resolvi fazer umas medições no Google Earth localizando o provável local dessa construção suspeita e vejam no que deu: ”
A quilometragem (9,9 km) coincide praticamente com o nome da estação, km 10, então provavelmente essa construção foi mesmo uma parada ou estação ferroviária. Na imagem de satélite acima, foi considerado o ponto inicial da ferrovia na época, ou seja, a estação de São Francisco Xavier da EF Leopoldina, junto à homônima da EF Central do Brasil.
Resolvi então fazer algo de que gosto bastante: superposições de imagens antigas com imagens atuais, e consegui apontar o local exato onde ficava essa parada que provavelmente foi bem primitiva. Atualmente ela não existe mais, o local está totalmente descaracterizado e, com a elevação do leito ferroviário anos mais tarde em relação à imagem de 1928, pode ter selado de vez o seu fim.
E vocês, conheciam mais esse mistério dos Trilhos do Rio de Janeiro? Quem tiver mais informações entre em contato, o mistério parece solucionado, mas ainda não está totalmente desvendado.
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