Receba as novidades Trilhos do Rio!

Tempo de leitura:5 minuto(s), 16 segundo(s)

Loading

­
✍️ Mozart Rosa
📅 06/08/2022
🕚 07h08
📷 Trem Pampeiro, entre Porto Alegre e São Borja, em março de 1967. Acervo Benício Guimarães


INTRODUÇÃO




───── INÍCIO DA PUBLICIDADE


───── FIM DA PUBLICIDADE




Hoje, sairemos da temática comum do site, que é abordar assuntos relativos às ferrovias do estado do Rio de Janeiro. Não é nossa intenção descrever aqui a história riquíssima da Viação Férrea do Rio Grande do Sul ou, como passaremos a descrever aqui: VFRGS.

A intenção é mostrar que o que aconteceu com ela é um reflexo do que aconteceu com a RFFSA.

Além disso, mostrar o que aconteceu com:

  • A privatização;
  • Os entes públicos;
  • Os políticos;
  • Os empresários.

Nenhum desses nada teve ou tem a ver com o estado atual de abandono em que se encontram os imóveis ferroviários remanescentes. A história real é um pouco mais antiga, mais complexa e não estudada.

Antiga estação de Vila Clara, Rio Grande do Sul

Usaremos a VFRGS como exemplo para contar um pouco dessa história.


HISTÓRIA

A VFRGS foi inaugurada em 1874, ligando Porto Alegre a São Leopoldo. Posteriormente, foi construído um trecho até Novo Hamburgo. Foi uma ferrovia criada de uma forma diferente das outras ferrovias brasileiras, criada para ser uma ferrovia de passageiros. Com o tempo, teve sua malha estendida para várias cidades do Rio Grande do Sul, transportando também cargas.

Percival Farquhar

Em 1905, passa a fazer parte do grupo empresarial comandado por Percival Farquhar, em sua época um dos maiores empresários do setor no país, cuja história é pouco estudada pelos amantes da ferrovia. Farquhar tornou-se mais conhecido pelos brasileiros graças à minissérie Mad Maria, da Rede Globo, de 2005, onde foi interpretado por José Wilker, que fala da construção da Ferrovia Madeira-Mamoré, empreitada da qual também participou. E como sempre acontece, quando a mídia retrata empresários, o foi de forma não muito elogiosa.

Augusto Pestana

Em 1920 um movimento liderado pelo então Deputado Federal pelo RS, Augusto Pestana, estatizou a VFRGS.

Vamos aqui fazer algumas considerações:

  • Em relação à VFRGS não sabemos se realmente estava com problemas e que tipo de problemas ela tinha, o que sabemos são apenas relatos de época. Mas o fato é que Augusto Pestana, que liderou o movimento para encampação da ferrovia pelo Estado, coincidentemente foi seu primeiro presidente nessa nova fase;
  • Sabemos também que Augusto Pestana era positivista, o mesmo movimento do qual participaram os homens que proclamaram a República e que, dentre outras coisas, acreditavam na participação do Estado como alavancador da economia.
  • Sabemos que, por orientação dos positivistas, leis tabelando fretes foram aprovadas, o que influenciou o resultado da VFRGS, portanto, é natural que sua manutenção e seus serviços não primassem pela qualidade.
  • Sabemos também que Augusto Pestana era extremamente nacionalista, sendo contrário à presença de empresas estrangeiras na gestão de algumas empresas brasileiras.
  • Por fim, sabemos que Augusto Pestana, embora fosse um administrador público eficiente, já que, durante 13 anos como administrador nomeado e, posteriormente, prefeito eleito do Município de Ijuí, tenha apresentado resultados surpreendentes, não era um homem de negócio. E, como já dissemos mais de uma vez:Ferrovia é um negócio”.
VEJA TAMBÉM  Homens armados invadem linha e roubam cabos causando o fechamento de 9 estações

Concluímos aqui com algumas considerações. Por que a VFRGS nunca foi devolvida para o empresariado? Por que tirar dinheiro daquilo que é função do estado, como saúde, segurança e educação, para investir em ferrovias, sendo ferrovias tipicamente um negócio?

Quando a RFFSA foi criada em 1957, a VFRGS e sua malha inicialmente não fizeram parte da RFFSA. A VFRGS, embora fosse já uma estatal, funcionava de forma independente da RFFSA. Sua incorporação à RFFSA só ocorreria em 1959.

Sabemos hoje que, mais de 100 anos depois, esse tipo de movimento, que quer mais Estado na economia, nunca acaba bem. Funciona muito bem para os empregados da instituição encampada, mas nunca para os consumidores dos produtos ou serviços que essa empresa encampada produz.

Esse texto é um pequeno resumo do que foi e do que aconteceu com a VFRGS: uma empresa com uma rica história que muito ajudou no desenvolvimento do Rio Grande do Sul. O objetivo desse texto também foi mostrar, aos amantes das ferrovias, que a participação do Estado na economia, e especificamente no setor ferroviário, a médio e longo prazo, sempre é danosa.

Acreditamos que muitos de nossos leitores não tenham visto ou leram balanços publicados pela VFRGS, ou pela RFFSA, mostrando seus enormes prejuízos. Assim como desconhecemos se os amantes das ferrovias tenham lido os atuais contratos de concessão, onde não é mencionado como obrigação dos concessionários a manutenção de mobiliário ferroviário, que um dia serviram de estações. Neste caso, ao ler esses contratos, deve-se entender os direitos e deveres das concessionárias.

O estado de abandono de alguns prédios ferroviários não é descaso das concessionárias, nem do empresário que só pensa no lucro, como alguns comentam:

  • É resquício de administrações da RFFSA, que estavam mais preocupadas com os benefícios de seus funcionários e deixavam o patrimônio ferroviário abandonado.
  • É resquício das leis aprovadas de maneira açodada no governo de FHC, para se livrar o mais rápido possível da RFFSA;
  • É resquício do desinteresse no setor, durante os governos Lula e Dilma, que não nomearam pessoas qualificadas para comandá-lo, piorando e transformando esse setor em um cabide de empregos ainda maior.

Além disso, hoje temos Internet, celulares com câmeras, Facebook, Instagram, Youtube, diversos meios de divulgar o que está errado. Antes disso, esse abandono, essa lambança, era completamente desconhecida pela maioria.

VEJA TAMBÉM  A guerra das bitolas e o prejuízo que ela causou ao Brasil

Portanto, ler que alguns prédios estão abandonados e que seria de responsabilidade das atuais concessionárias, que nada têm a ver com isso, já que em seus contratos, pelo menos os que tivemos acesso, nem existe menção a manter esses imóveis, é de doer.

A título de curiosidade: o prédio que deverá em breve ser demolido, por sofrer incêndio recentemente e que durante anos foi a sede da SSP-RS, foi inicialmente a sede da SR-6, regional da RFFSA. Alguém conhece no Brasil atual alguma empresa com uma sede desse tamanho? Por aí, vocês entendem o gigantismo da RFFSA.

Gostou? Curtiu?
Comente! Compartilhe!
Agradecemos a leitura, até a próxima!

A opinião constante neste artigo é de inteira responsabilidade do autor, não sendo, necessária ou totalmente, a posição e a opinião da instituição.

Feliz
Feliz
0 %
Triste
Triste
0 %
Empolgado
Empolgado
0 %
Sonolento
Sonolento
0 %
Nervoso(a)
Nervoso(a)
0 %
Surpreso
Surpreso
0 %

Autor

  • Mozart Rosa

    Iniciou sua carreira profissional em 1978 trabalhando com um engenheiro que foi estagiário da RFFSA entre 1965 e 1966, que testemunhou o desmonte da E.F. Cantagalo e diversas histórias da Ferrovia de Petrópolis. Se formou Engenheiro Mecânico pela Faculdade Souza Marques em 1992, foi secretário-geral Trilhos do Rio no mandato 2017-2020 e atualmente ocupa o cargo de redator do site, assessor de contatos corporativos e diretor-técnico.

    Ver todos os posts

Classificação média

5 Star
0%
4 Star
0%
3 Star
0%
2 Star
0%
1 Star
0%

Acesse para Comentar.

Post anterior Bitola 1600mm? 1000mm? Ou até mesmo a de 760mm?
Próximo post Angra dos Reis x Lídice – Um trecho que (ainda) não percorremos